Governo pode desapropriar terras com queda na produtividade de cana no Centro-Sul

Safra 2011/2012 teve recuo de 15,3%, em relação às 82,1 toneladas por hectare colhidas no ciclo anteriorA baixa produtividade dos canaviais do Centro-Sul na safra 2011/2012, a pior dos últimos 23 anos, abriu uma brecha para que o governo federal, por meio do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), desaproprie terras com a cultura. Dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) apontam que até outubro a produtividade média na região chegou a 69,5 toneladas por hectare. Na área de Araçatuba, oeste paulista, os canaviais renderam 65,9 toneladas por hectare e, no Paraná, produziram apenas

Esses índices estão abaixo da produtividade de 70 toneladas por hectare estipulada pelo governo desde a década de 1980 como um dos critérios para a desapropriação de terras com cana em São Paulo e do Paraná para fins de reforma agrária. Os dois Estados possuem quase 5,5 milhões de hectares com cana para a colheita anual, ou quase 70% dos oito milhões de hectares da cultura no Centro-Sul.

“De forma geral, a produtividade é uma das funções sociais da terra e a terra que não cumpre função social é passível de desapropriação. No entanto, toda propriedade pode justificar e tem todo o direito de defesa”, admitiu o Incra, por meio de sua assessoria de imprensa.

O índice de produtividade é um dos maiores tabus dentro do governo federal, por causa da falta de consenso em relação à revisão dos indicadores propostos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, em 2009. Se os números sugeridos à época fossem aprovados, a situação seria mais grave, pois a produtividade mínima dos canaviais passaria para 75 toneladas por hectare. No entanto, diante da pressão, o assunto seguiu engavetado pelo governo nos últimos dois anos.

O presidente da Associação dos Produtores de Bioenergia (Udop), empresário do setor sucroalcooleiro e prefeito de Sud Mennucci (SP), Celso Torquato Junqueira Franco, admite a possibilidade de terras canavieiras serem desapropriadas com os índices vigentes.

? Legalmente, a perda de produtividade dá ao governo a possibilidade de desapropriar área improdutiva e o resultado deste ano aumenta o risco. Mas é preciso avaliar se há vontade política do governo ? disse o empresário.

Junqueira Franco sugeriu, inclusive, que entidades do setor, como a própria Udop e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) “se preparem e elaborem documentos como respaldo, para evitar algum problema”. Caso isso aconteça, quem deve municiar o setor é o CTC, entidade de pesquisa e desenvolvimento mantida por usinas e destilarias que apontou índices de produtividade abaixo dos mínimos para desapropriação.

Segundo o gerente de produtos do CTC, Luiz Antônio Dias, há uma série de explicações para justificar essa produtividade baixa, de 69,5 toneladas por hectare na safra 2011/12, que representa quedas de 15,3%, ante as 82,1 toneladas por hectare colhidas na safra passada, e de 18,1% em relação ao índice considerado “mínimo ideal” para a região, que é de 85 toneladas por hectare.

As estiagens nas últimas duas safras, as fortes geadas este ano e o florescimento dos canaviais, induzido pelo clima irregular entre fevereiro e março, são fenômenos climáticos que contribuíram para a quebra da produtividade. Também existe a questão econômica, como o envelhecimento e a falta de renovação das lavouras, além da redução nos tratos agrícolas nos canaviais após a crise de 2008, que atingiu com força o setor sucroalcooleiro.

? Mais da metade da perda de produtividade, ou de 14% a 15% desses 18%, ocorre por esses dois fatores. Outros motivos secundários, como aumento de pragas e impactos da mecanização na colheita, também contribuíram para essa queda ? disse Dias.

O gerente do CTC prevê que no fechamento da safra o índice de produtividade fique ainda menor, em torno de 69 toneladas por hectare, e também vê possibilidade para desapropriações por conta desses números. No entanto, segundo ele, o cenário deve mudar a partir da próxima safra.

? O clima melhorou bastante, com períodos de chuva alternando com curtos de estiagem muito bons para o plantio e o desenvolvimento das lavouras ? aponta Dias.