O ambientalista criticou o fato de a CNA utilizar dados das demarcações dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula de Silva para alertar sobre os possíveis riscos de perda de área produtiva, “como se (as demarcações) estendessem pela eternidade”.
Na avaliação do dirigente do Greenpeace, os dados apresentados pela CNA, com base em informações do IBGE e do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), “são todos questionáveis e não refletem a realidade dos fatos”. Ele observa que a maior parte das unidades de conservação foi criada em áreas de florestas e que as estimativas recordes da produção brasileira de grãos mostram que a área cultivada não encolheu nas últimas décadas.
Em relação ao impacto negativo de R$ 126 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB), que seria provocado pela exigência do novo Código Florestal de recomposição de 30 milhões de hectares de matas e florestas, Astrini diz que a projeção da CNA superestima o valor da renda do agronegócio, calculada em R$ 4.192 por hectare. Ele afirma que apenas algumas culturas, como a cana-de-açúcar em São Paulo e a soja no cerrado, podem proporcionar um ganho desta ordem, enquanto a pecuária fica bem abaixo deste valor.
ICMBio também reage
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) também criticou as análises apresentadas pela CNA. De acordo com o órgão ambiental do governo federal, não há fundamento na afirmação de que a criação de áreas protegidas represente diminuição do tamanho das áreas de produção agrícola
O ICMBio diz que criar unidades de conservação não representa ameaça à produção rural no Brasil, nem tampouco é impedimento para o crescimento da agropecuária, como prova o forte aumento da produção de grãos nos últimos 16 anos. O desafio do setor agrícola deve ser, segundo o instituto, a permanente busca pela eficiência no processo produtivo nas áreas já ocupadas.
A diretoria do ICMBio acrescenta que “todas as atividades econômicas dependem da disponibilidade de água de boa qualidade, a qual está relacionada diretamente ao percentual de cobertura vegetal de uma bacia hidrográfica”, e que os 75 milhões de hectares de áreas protegidas – dos quais 61,43 milhões correspondem a unidades de conservação predominantemente florestais – “prestam inestimáveis serviços ecossistêmicos, com valor incalculável para o equilíbrio do clima e da conservação da biodiversidade, onde já não seria possível a sua conversão em pastos ou lavouras”.
Além disso, parte da produção extrativista brasileira (entre eles, frutos, aromáticos, borrachas, ceras, fibras, gomas, oleaginosos e pescados) foi retirada de reservas extrativistas e de florestas nacionais, a partir do uso sustentável dos recursos naturais feito por mais de 65 mil famílias de extrativistas. Segundo o ICMBio, esse tipo de extrativismo movimentou R$ 3,79 bilhões em 2012.
Por fim, o instituto argumenta que conciliar o crescimento econômico e a conservação ambiental é uma estratégia para o futuro, voltada para a eficiência, a sustentabilidade e a justiça social. E, ao contrário do que diz a senadora, “são as áreas protegidas que sofrem constante pressão para serem convertidas em pasto, lavoura ou expansão urbana”.