Após 101 dias de disputa com o Executivo pela crescente pressão do Fisco, as quatro principais entidades agropecuárias argentinas ratificaram que a partir da meia noite desta sexta (horário de Brasília, o mesmo na Capital argentina) vão terminar com a quarta greve.
A paralisação atual consiste em não comercializar grãos para a exportação, porém o setor agrário adverte que o protesto continuará com “outra estratégia”.
? Vamos deixar as estradas, assegurou Alfredo De Angeli, dirigente da Federação Agrária Argentina da cidade de Gualeguaychú, que ressaltou que o protesto vai ser transferido para Buenos Aires.
De Angeli, um dos símbolos das reivindicações do campo, disse que os produtores manterão reuniões “diárias” com os legisladores, que a partir da semana que vem começarão a discutir no Parlamento o esquema tributário sobre as exportações de grãos.
? O melhor que poderia acontecer é que o Congresso tratasse deste assunto. Nós democraticamente vamos fazer com que eles entendam que devem legislar a favor do povo que votou neles ? afirmou em coletiva de imprensa em Gualeguaychú, onde os protestos foram mais intensos.
O líder disse também que os produtores agropecuários “não são os culpados” pelo desabastecimento nas principais cidades do país nem pelo aumento do preço dos alimentos.
? Estão nos atribuindo esse problema, mas não temos nada a ver com isso. Nós só bloqueamos a passagem de caminhões que transferiam grãos para a exportação ? explicou.
Os diferentes setores do comércio voltaram a alertar nesta sexta sobre a falta de produtos básicos como conseqüência do bloqueio de estradas. A Associação de Supermercados Unidos e a Câmara de Supermercados publicaram um texto nos jornais locais reivindicando a livre circulação nas estradas e advertindo sobre um grave desabastecimento de alimentos devido aos bloqueios.
“Os numerosos bloqueios de estradas afetam o transporte de mercadorias em geral, não só dos grãos de exportação, e puseram em situação crítica a logística de todas as redes de supermercados”, disseram na publicação as duas entidades.
A União Industrial Argentina, a maior entidade empresarial do país, apontou também em comunicado que os bloqueios estão “forçando” as fábricas a dispensarem funcionários. Deferentes fontes estimavam em 20 mil os trabalhadores que tiveram que ser afastados e apontaram as indústrias automobilística, têxtil e alimentícia como as mais prejudicadas.
A distribuição de combustíveis também continua afetada, sobretudo no centro e no norte do país, onde em vários pontos as bombas já esvaziaram.
? Em Buenos Aires e no perímetro urbano o abastecimento é normal, mas há dificuldades no norte e no litoral do país, especialmente nas províncias de Córdoba, Entre Ríos, Santiago del Estero, Salta, Jujuy e Formosa ? disse o presidente da Federação de Vendedores Varejistas de Combustíveis, Rosario Sica.
O conflito entre o campo e o governo eclodiu em 11 de março, quando o Executivo impôs um novo esquema de imposto às exportações de soja, milho, girassol e trigo. A medida foi o estopim para que os produtores rurais começassem a realizar bloqueios de estradas e quatro greves comerciais, que foram interrompidas por breves tréguas, apesar de não ter se chegado a um acordo.
O conflito afetou a imagem da presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, que enfrentou na segunda-feira, dia 16, grandes panelaços nas principais cidades do país e cuja popularidade caiu 36 pontos percentuais desde que assumiu seu mandato há seis meses.