A paralisação dos fiscais federais agropecuários completa cinco dias. Sem previsão de negociação entre o sindicato e os Ministérios da Agricultura e Planejamento, representantes de diferentes setores do agronegócio demonstram preocupação com os impactos da greve nas exportações brasileiras. No setor agropecuário, os estados de Santa Catarina e São Paulo são os que mais registram prejuízos com a greve dos fiscais federais. É o que afirma o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. Com a paralisação, cargas de aves e suínos aguardam permissão para o embarque.
– Nós temos, hoje, de 500 a mil contêineres parados. O custo para mantê-los ligados é caríssimo – diz.
O presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, afirmou que o ritmo de embarques de milho para exportação caiu depois que os fiscais federais agropecuários entraram em greve.
– Tem muito importador desorientado, procurando informação. O ritmo de exportação caiu em alguns portos, como no do Pecém (CE), Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS) – disse.
Segundo ele, o governo não tem demonstrado grande interesse em resolver rapidamente o impasse.
– Esta é a nossa percepção, porque quando uma greve é considerada realmente grave, o governo toma providências, cria um grupo de trabalho para discutir o assunto. Neste caso, o governo está meio quieto – declarou Paolinelli.
De acordo com ele, o Ministério da Agricultura trabalha em uma proposta para a área de defesa vegetal e animal que, se acatada, pode reduzir a necessidade de fiscais. Paolinelli disse que, pelo novo projeto, as fiscalizações poderiam se concentrar em pontos de risco (locais como portos, terminais, armazéns ou áreas produtoras) onde haja maior probabilidade de serem encontrados produtos contaminados ou “mal classificados”. A proposta pode contemplar, ainda, a terceirização de parte do serviço hoje feito pelos fiscais federais para empresas ou “grupos credenciados”.
– A solução mais rápida seria o acerto com os fiscais, porque é mais que sabido que o número (de profissionais da categoria) é pequeno – declarou.
O presidente executivo da Abramilho contou ter recebido reclamações de alguns exportadores e que eles estão sendo orientados a enviar reclamações formais ao Ministério da Agricultura, solicitando uma solução para o problema. Paolinelli concorda com a visão do presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Castanho Teixeira Mendes, de que a falta de certificados fitossanitários para o milho brasileiro pode comprometer a imagem do Brasil como exportador de grãos.
– Se continuar do jeito que está, é lógico que vai comprometer a imagem do país – disse.
A Anec emitiu nesta segunda, dia 21, um alerta internacional aos importadores sobre os atrasos nas entregas, por causa da greve. De acordo com entidade, o objetivo é que os importadores saibam a real situação brasileira e mantenham relações com os exportadores. No comunicado, a entidade declara que 90% dos fiscais aderiram à greve que iniciou na última quinta, dia 17, em todo o país e por tempo indeterminado. Em portos como Santos e Itajaí esse índice é de quase 100%. Os serviços comprometidos são as emissões de certificados fitossanitários, documento indispensável para o desembarque das mercadorias ao destino.
Segundo Mendes, a ausência do certificado pode prejudicar a imagem do Brasil diante dos países importadores.
– A maior preocupação é perder credibilidade no mercado internacional. Essa perda pode ser muito grande para o Brasil – diz.
Pelo menos 2.800 fiscais federais agropecuários de todo o país estão parados desde a última quinta. A greve atinge portos, aeroportos, postos de fronteira e serviços de inspeção animal em frigoríficos.