Agronegócio

Guerra comercial entre China e EUA pode prejudicar economia brasileira

Segundo a ONU, como a magnitude e a duração da disputa não são claras, produtores brasileiros têm relutância em tomar decisões sobre investimentos

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Foto: Shealah Craighead/ White House

Um estudo das Nações Unidas revelou que como a magnitude e a duração da disputa não são claras, produtores brasileiros têm relutância em tomar decisões de investimento, que podem ser não lucrativas se as tarifas não forem revogadas.

Um estudo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) concluiu que as disputas comerciais entre os Estados Unidos e China têm impactos negativos para outras economias em desenvolvimento. Segundo a agência da ONU, mesmo os países cujas exportações devem aumentar devido à guerra comercial poderão sentir resultados negativos.

No caso do mercado da soja, as tarifas aplicadas pela China ao grãos dos EUA resultaram em efeitos distorcidos do comércio em benefício de vários países exportadores, em particular o Brasil, que se tornou o principal fornecedor de soja para a China.

Apesar disso, o órgão das Nações Unidas considera que como a magnitude e a duração das tarifas não são claras, os produtores brasileiros têm relutância em tomar decisões de investimento, que podem não ser lucrativas se as tarifas não forem revogadas.

Além disso, empresas brasileiras que operam em setores que usam soja como matéria-prima, como a de ração animal, estão condenadas a perder competitividade por causa do aumento de preços provocados pela procura de soja brasileira pela China.

Nova call to action

“Devido ao tamanho de suas economias, as tarifas impostas pelos Estados Unidos e pela China terão inevitavelmente repercussões significativas no comércio internacional”, disse a chefe da divisão de comércio internacional da Unctad, Pamela Coke-Hamilton.

Guerra cambial

O estudo também ressalta que, embora alguns países tenham aumentado as exportações, é provável que os efeitos globais negativos dominem, como tornar a economia global mais frágil.

Segundo a entidade, uma desaceleração econômica é frequentemente acompanhada por distúrbios nos preços das matérias-primas nos mercados financeiros e nas moedas, o que poderia ter importantes repercussões para os países em desenvolvimento.

Outra preocupação é que mais países entrem em guerras comerciais e que as políticas protecionistas possam se elevar a nível global. “Como as políticas protecionistas geralmente prejudicam mais os países mais frágeis, é crucial manter um sistema de comércio multilateral capaz de neutralizar os impulsos protecionistas e manter o acesso ao mercado para os países mais pobres é crucial”.

Impactos

O estudo ressaltou também que as tarifas bilaterais pouco ajudarão a proteger as empresas domésticas nos seus respectivos mercados. Dos US$ 250 bilhões em exportações chinesas sujeitas a tarifas nos EUA, por exemplo, cerca de 82% serão absorvidas por empresas de outros países, 12% por empresas chinesas e apenas cerca de 6% absorvidos por empresas americanas.

Da mesma forma, dos cerca de US$ 85 bilhões em exportações dos EUA sujeitos a tarifas da China, cerca de 85% serão capturados por empresas de outros países. As empresas americanas manterão menos de 10%, enquanto empresas chinesas capturarão apenas cerca de 5%.

Tensões comerciais

As atuais tensões comerciais surgiram no início de 2018, quando a China e os EUA impuseram tarifas sobre cerca de US$ 50 bilhões de bens dos dois países.

A disputa aumentou rapidamente e, em setembro de 2018, os EUA impuseram tarifas de 10% a cerca de US$ 200 bilhões em importações chinesas. A China retaliou de imediato impondo tarifas sobre as importações dos EUA, no valor de US$ 60 bilhões.

As tarifas de 10% deveriam inicialmente subir para 25% em janeiro de 2019. No entanto, no início de dezembro de 2018, as partes concordaram em congelar o aumento tarifário até ao dia 1º de março de 2019. Os dois países estão em negociação sobre o assunto.

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