Em São Paulo, a produção de cambuci tem aumentado a cada ano e, em 2019, a expectativa é de colher 80 toneladas. Para muita gente, o nome dessa fruta é desconhecido, mas para o produtor Maurício Ferreira ela faz parte de suas memórias de infância.
“Se eu pudesse plantar o território inteiro com cambuci, eu plantaria. Porque ela faz parte da minha família, da origem da minha vida”, diz.
A paixão pela fruta originária da Mata Atlântica começou com o avô do produtor, um italiano que adorava o sabor do suco de cambuci. Vinte anos depois, foi a vez do próprio Mauricio começar a plantar a fruta. Atualmente, ele mantém 1.400 pés, que rendem 10 toneladas por ano.
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Desde o ano passado, a família do produtor passou a vender a fruta congelada para uma Organização Não Governamental (ONG) em São Paulo.
“Inicialmente era só tradição de família: plantávamos porque gostávamos da árvore, de como ela chegou ao nosso conhecimento e pela fruta também, que é muito saborosa como suco. A partir do momento em que se passou a se tornar mais conhecida, ficamos cada vez mais felizes em poder comercializar essa fruta, e espero que continue assim”, afirma Maurício.
Características
O quilo da fruta é cotado de R$ 4 a R$ 6, e a grande vantagem de plantar o cambuci é a facilidade no manejo. Para o plantio, é preciso apenas roçar o terreno para controlar o mato. Além disso, o gado não come e nenhuma praga consegue atacar a fruta.
Em 2018, a propriedade conseguiu uma certificação de produção 100% orgânica. “O consumidor desse tipo de mercadoria, de frutas nativas, é exigente nesse sentido de qualidade, livre de agrotóxico. Esse certificado vai ajudar a gente na comercialização, esse apelo tanto ecológico quanto de saúde ajuda bastante”, diz o também produtor Victor Augusto Secoli Silva.
O estado de São Paulo tem uma rede formada pelo Instituto AUÁ, que conta com 100 produtores de 18 municípios. Em 2014, a rede tinha apenas 12 agricultores e juntos produziram 7 toneladas da fruta. A expectativa para este ano é colher 80 toneladas de cambuci.
Origem do nome
A palavra cambuci vem do tupi guarani kãmu-sí, que significa “pote de água”, porque o formato da fruta lembra o de um vaso de cerâmica. Por dentro, ela tem bastante polpa, mas o ideal não é consumir a fruta desse modo, já que ele é bastante cítrica e azeda.
A recomendação é consumir em forma de geleia, mergulhado na cachaça ou transformado em suco. Este último tem um sabor semelhante ao de goiaba verde, e no final pode lembrar o gosto do caju.
Rafael Meira também investe na produção de cambuci e derivados. Atualmente, ele se prepara para começar a primeira colheita em seus 300 pés de cambuci, quatro anos depois do plantio.
“Futuramente, o cambuci será uma fruta que terá boa demanda no mercado, principalmente por acompanhar a tendência de consumo de sabores diferentes e de produtos nativos, regionais. A ideia é que, assim como o açaí se tornou um símbolo na Amazônia, o cambuci se torne símbolo da Mata Atlântica”, afirma Rafael Meira.