A abóbora é um dos alimentos mais versáteis do mundo. É possível consumir sua semente, broto, folhas, fruto verde e maduro, além de ser usada com fins ornamentais. Seu cultivo é bastante comum no Brasil, mas se você está pensando em começar a plantar, há alguns aspectos que devem ser levados em conta.
Primeiro, a abóbora é muito sensível ao frio e não suporta geadas. “São adaptadas às temperaturas de primavera, verão e outono de Norte a Sul do Brasil.”, destaca Geovani Amaro, pesquisador da Embrapa Hortaliças.
Segundo ele, estudos indicam que a tempera ideal para germinação vai 25 ºC a 30 ºC e o bom desenvolvimento dos frutos, de 18 ºC a 30 ºC.
Escolhendo a cultivar
Nem toda abóbora é feita para consumo, como a variedade linda. Amaro recomenda ao produtor definir o mercado que quer atender, como, por exemplo, o de doces, para depois buscar uma cultivar adequada.
A abóbora japonesa (ou cabotiá) é o tipo mais comum no país, principalmente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, mas requer um trabalho adicional. “O híbrido não é fértil, não possui pólen, sendo assim um macho estéril. Para produzir frutos, deve-se usar uma polinizadora, que podem ser outras variedades de abóbora ou moranga”, afirma o pesquisador. Uma opção é a moranga exposição.
O ideal é plantar uma fileira polinizadora para cada quatro fileiras da abóbora híbrida japonesa. Segundo o especialista da Embrapa, o distanciamento aconselhado é de 2 a 3 metros entre linhas e de 1 a 2 metros entre cada planta na mesma fileira.
Amaro destaca, ainda, que a ausência de insetos na área pode inviabilizar o cultivo.”Abelhas e vespas são responsáveis pela polinização. Sem elas, pode não acontecer”, diz.
O pesquisador conta que o pólen dessas plantas é úmido e pegajoso, por isso o horário para polinização vai das 7h às 12h. Neste período, é ideal não aplicar inseticidas ou irrigar.
Cuidados com o solo
Uma das etapas mais importantes é a preparação. O trabalho começa com a análise do solo, que vai determinar a adubação necessária de acordo com a área. A abóbora se desenvolve bem em solos com pH entre 6 e 6,5.
“Se jogar adubo na quantidade certa, ele terá lucro, pois com a análise de solo sabe-se exatamente a quantidade adequada, sem ausências nem excessos”, afirma Amaro.
Em áreas muito extensas, é necessário dividir o solo em glebas, com diferentes análises para cada parte. Isso porque locais diferentes de um mesmo terreno podem necessitar de adubações específicas, de acordo com suas características. Esse processo é utilizado principalmente em produções comerciais, de médio e grande porte, nas quais a adubação mineral é a mais utilizada.
Caso seja necessário fazer uma calagem para elevar os níveis de cálcio e magnésio, a recomendação é fazê-la de dois a três meses antes do plantio. O calcário deve ser distribuído em toda área e incorporado ao solo pela aração e gradagem na profundidade de 20 cm. Caso não chova neste período, é necessária a irrigação periódica para promover a reação do calcário com o solo.
Próximo ao plantio completa-se o preparo do solo com a segunda gradagem para eliminar as plantas invasoras já estabelecidas, e em seguida faz-se a abertura de sulcos ou covas para a distribuição do adubo orgânico e mineral.
Duas outras adubações de cobertura com formulações NPK 20-00-20 são recomendadas: uma 20 dias após a germinação e outra 40 dias depois.
Plantando
As covas devem ter dimensões aproximadas de 40 cm de comprimento, 30 cm de largura e 25 cm de profundidade, já os sulcos devem ter cerca de 30 cm de largura e 25 de profundidade.
A opção de plantio em sulco possibilita uma maior operacionalização do cultivo e uma melhor distribuição e incorporação dos adubos, sendo a mais viável para grandes áreas, de acordo com a Embrapa.
Para um cultivo mais produtivo, recomenda-se que o terreno seja plano e extenso para que as abóboras cresçam sem restrições.
O plantio pode ser feito de duas maneiras: depositando as sementes diretamente na terra ou cultivando mudas, depositadas em copinhos ou vasos de papel ou plástico.
Para o método com sementes, o correto é colocar de duas a três por cova, entre 1 cm e 3 cm de profundidade. Se a optar por mudas, o aconselhável é transplantá-las para a terra após o surgimento de duas folhas.
Controle de invasoras
A cultura da abóbora japonesa deve ser mantida limpa na fase inicial de estabelecimento por meio de capinas manuais ou mecânicas, segundo estudo da Embrapa.
Depois da frutificação as plantas de abóboras cobrem rapidamente boa parte da área cultivada e algumas plantas espontâneas geralmente não prejudicam a cultura e até auxiliam no final do ciclo na proteção dos frutos contra a queima do sol ou escaldadura.
Irrigação
Na ausência de chuvas regulares são necessárias irrigações complementares. As irrigações dependem das condições climáticas, tipo de solo e fase do ciclo da cultura.
Elas devem ser mais frequentes e com menor volume nas fases iniciais do ciclo, e com menor frequência e maior volume no início da frutificação até ao início da maturação dos frutos, ou seja, de duas a três semanas antes da colheita.
Solos mais arenosos exigem irrigações mais frequentes com menor volume de água e solos mais argilosos necessitam de irrigações menos frequentes com maior volume em cada aplicação. Em sequencia de dias mais quentes e ensolarados deve-se fazer irrigações mais frequentes.
Em lavouras menores é utilizado regadores, mangueira ou irrigação por sulcos, se a área permitir. Em lavouras médias é recomendado irrigação por gotejamento ou aspersão convencional. Em maiores, é muito comum aproveitar o pivô-central utilizado também para outras culturas.
Mas a tendência é utilizar sistemas de irrigação mais eficientes para maximizar o uso da água, como gotejamento, aumentando a produtividade e economizando mão de obra e energia. Lembrando que irrigações por aspersão na parte da manhã prejudicam a atividade das abelhas e outros insetos polinizadores.
Cinco dicas para combater pragas
- Escolha uma área arejada, com muita luminosidade e bem drenada;
- Realize uma adubação correta e balanceada. Sem excessos nem ausência de nutrientes;
- Realize a rotação de culturas na área e evite plantações muito próximas, sobretudo outras cucurbitáceas;
- Estabeleça barreiras de quebra-vento para evitar danos à plantação;
- Atente-se à qualidade da água utilizada na irrigação.
As principais pragas que afetam as plantações de abóboras são broca-das-cucurbitáceas e a mosca-branca.
Tempo até a colheita
Geralmente, a cabotiá está pronta para ser colhida após 95 ou 100 dias do plantio. Outras abóboras demoram de 130 a 150 dias para amadurecer e as morangas, de 110 a 120 dias. É claro que isso depende dos fatores climáticos e da quantidade de água recebida.
É lucrativo?
A rentabilidade é considerada alta, devido à demanda no mercado interno, além da abóbora estar no pacote de produtos agrícolas que o Brasil exporta.
Segundo estudo da Emater do Distrito Federal, o custo de produção da abóbora japonesa é de R$ 9.450,97 por hectare. Entram na conta gastos com insumos e serviços, como adubação e irrigação. “Outras abóboras e morangas podem custar até metade desta valor”, pontua Amaro.