O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de junho estima uma safra de 191,8 milhões de toneladas em 2016, um recuo de 8,4% em relação à produção de 2015, quando a produção totalizou 209,4 milhões de toneladas. Os dados foram informados nesta quinta, dia 7, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A nova projeção é ainda 2,1% menor do que o previsto em maio, com 4,0 milhões de toneladas a menos.
Maior queda
Se confirmada, a queda de 8,4% na safra de 2016, será a maior desde 1996, quando a produção encolheu 13,3%. Em termos absolutos, a queda de 17,6 milhões de toneladas na passagem de 2015 para 2016, se confirmada, será a maior da série histórica iniciada em 1975, embora isso ocorra em parte porque o tamanho total da safra cresceu muito de lá para cá, como ponderou Alfredo Guedes, gerente da Coordenação de Agropecuária do IBGE.
Segundo Guedes, a estimativa no início do ano era de safra recorde em 2016, mas as projeções foram se desfazendo à medida que o clima piorava, sobretudo por causa da falta de chuvas no Cerrado, principal responsável pela mudança para uma estimativa de queda. “No início do ano, previsão era ter safra recorde. Houve plantio, mas clima prejudicou a produtividade”, disse Guedes.
Nos cálculos do IBGE, se a safra de 2016 se confirmar nesses níveis, ficará 2,8 milhões de toneladas abaixo da produção de 2014, recuo de 1,5%. Na passagem de maio para junho, a estimativa para a produção de soja ficou 0,3% menor. Já a estimativa para a produção de milho ficou 4,6% menor do que a estimada em maio.
Com quase toda a produção de soja já colhida, a projeção de 96,6 milhões de toneladas deverá se alterar pouco. Essa produção é 0,6% inferior ante 2015. Já a segunda safra de milho continua afetada pelo clima. As quedas em relação a 2015 serão de 14,0% (primeira safra) e 20,1% (segunda safra).
Segundo Guedes, o milho foi mais prejudicada do que a soja porque a produção na segunda safra ganhou relevância. A segunda safra já representa 64,1% da estimativa total de 70,1 milhões de toneladas. Como o clima foi menos favorável na época da segunda safra, o milho acabou mais prejudicado.
Área colhida
A estimativa da área a ser colhida pelos produtores agrícolas brasileiros em 2016 é de 57,6 milhões de hectares, uma queda de apenas 0,1% em relação a 2015, aponta o IBGE. Em relação à estimativa de maio, a área projetada recuou 0,3%. O arroz, o milho e a soja – os três principais produtos da safra nacional, respondem por 87,4% da área a ser colhida e 92,4% da estimativa da produção.
Na comparação com 2015, houve acréscimo de 2,8% na área prevista de soja e redução de 1,2% na de milho. A projeção da área de arroz teve redução de 9,4%. Quanto à produção, houve recuo de 0,6% na estimativa para a soja, de 12,2% para a de arroz e queda de 18,0% para a de milho, quando comparadas a 2015.
Feijão
Segundo Guedes, o feijão é mais sensível ao clima do que outros produtos. “Feijão é uma cultura sensível, de ciclo rápido”, afirmou Guedes.
A quebra de safra da leguminosa tem feito o tradicional alimento das famílias brasileiras se tornar vilão da inflação. O IBGE projeta para 2016 uma produção total de 2,9 milhões de toneladas nas três safras de feijão ao longo do ano, queda de 6,6% em relação a 2015.
Segundo Guedes, o consumo nacional é estimado em 3,2 milhões de toneladas por ano. Os preços sobem também porque o grão é perecível, não tem estoques, e poucos são os países exportadores.
O clima afetou o feijão porque choveu muito no início do ano, época do plantio, explicou Guedes. Depois, houve seca e, mais recentemente, geadas atrapalharam a produção (o Paraná é o principal produtor do feijão carioca, a variedade mais consumida).
A “esperança” para a dinâmica de preços seria a terceira safra, que está sendo plantada. O IBGE já projeta uma queda de 2,2% na produção da terceira safra em relação a 2015 mas, de acordo com Guedes, não dá para contar muito com ela porque responde por apenas 14,9% da produção anual.
Arroz
Já no arroz, a redução da safra também começa a se refletir no preço. Nessa cultura, o problema foi a chuva de janeiro no Rio Grande do Sul, que responde por 72,3% da produção nacional. “Pode ser que a gente precise importar”, disse Guedes, destacando que a produção total nacional do cereal está estimada em 11,5 milhões de toneladas para 2016 (12,2% abaixo de 2015), mas o consumo anual é estimado em 11,5 milhões de toneladas.
Milho e trigo
Daqui até o fim do ano, a segunda safra de milho e a safra de trigo serão os principais fatores a determinar a produção agrícola de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2016.
Segundo Guedes, não é possível estimar se as projeções melhorarão ou piorarão no segundo semestre, mas o pesquisador destacou que o trigo é “muito suscetível” ao clima, principal responsável pela quebra de safra geral deste ano. “Tem espaço para piorar”, reconheceu Guedes.
A estimativa de junho do IBGE para o milho de segunda safra é de queda de 20,1% em relação a 2015. Para o trigo, ainda não há estimativa, porque ele é plantado após a segunda safra de milho. Mesmo que a produção não seja grande em termos históricos, poderá haver alta em 2016 porque houve quebras de safra em 2014 e 2015, destacou Guedes.