No domingo, dia em que os acionistas da Anheuser-Busch se reuniram por teleconferência para apreciar a proposta da InBev, o jornal St. Louis Today, da cidade-sede da empresa, anunciava que Brito estava prestes a tornar-se o novo rei das cervejas – apelido da Budweiser, dona de quase 50% do mercado nos EUA. Mas a manchete poderia ter outro significado. Desde que começaram as negociações, Saint Louis se transformou no reino da angústia, segundo o The Wall Street Journal.
Dos tradicionais bebedores de Budweiser ao prefeito, relata o diário, os moradores da cidade passaram a tentar antecipar o impacto da venda da fábrica. Há poucas dúvidas de que haverá demissões. Muitos se preocupam com o risco de aumentar a água na cerveja – conseqüência da obstinação por resultados financeiros que vislumbram nos novos controladores.
Obsessão por resultados é marca do executivo
Reverter essa oposição é um dos desafios de Brito, executivo de perfil discreto, homem de operação e execução, descrito por ex-colegas e ex-subordinados como pragmático ao extremo. O negócio anunciado nessa segunda-feira era mais do que a fronteira final do projeto do trio Jorge Paulo Lehmann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, ex-controladores do banco Garantia e os maiores acionistas individuais da InBev. Era o sonho acalentado desde 1989, quando os três compraram a Brahma, ponto de partida da trajetória que alterou o mercado brasileiro de cervejas e, agora, o mundial.
Embora tenha ficado mais conhecido a partir de 2004, quando assumiu a direção geral da AmBev (resultado da fusão entre Brahma e Antarctica, em 1999), seu relacionamento com o trio é antigo. Data de meados dos anos 80, quando procurou Lehmann para pedir que ele financiasse seu MBA em Stanford, nos EUA. Em contrapartida, precisaria enviar informações sobre o que se passava no mundo dos negócios e, no futuro, teria de financiar um jovem talentoso, mas sem recursos.
Antes de Stanford, Brito, engenheiro pela Universidade Federal do Rio, havia trabalhado na Daimler-Benz e na Shell. Na volta, ingressou no Garantia, poucos meses antes da compra da Brahma, e foi um dos executivos escalados para reverter a má situação da cervejaria. Foi quando mostrou que a obsessão por resultados, marca dos ex-banqueiros, estava em seu DNA. Desenvolveu o primeiro sistema formal de controle do desempenho das fábricas e instituiu processos inéditos para guiar o trabalho dos vendedores.
Na InBev, sua tarefa foi cortar custos que eliminaram regalias e introduzir o lema de fazer mais com menos. Altos executivos ficaram sem carros e celulares, o que não contribuiu para sua popularidade, nem entre os trabalhadores da belga Leuven, onde fica a sede. Em dois anos, o faturamento cresceu 20%, o lucro dobrou e a cervejaria baseada na cidade de pouco mais de 100 mil pessoas conseguiu pagar US$ 52 bilhões por um dos maiores ícones dos EUA.
Brito, que é casado e tem quatro filhos, aparentemente adotou uma estratégia diferente desta vez, segundo o The Wall Street Journal. Foi até Saint Louis antecipar que pretende manter executivos-chave, fazer da cidade o quartel-general da nova empresa e que a Budweiser será a marca mundial, estrela entre as mais de 300 do novo portfólio. Além do mais, garante que a velha Bud é a sua cerveja predileta.