Os prejuízos para o agronegócio de São Paulo com os incêndios florestais se aproximam dos dois bilhões de reais, de acordo com a Secretaria Estadual de Agricultura.
O fogo tem destruído propriedades rurais que há décadas passam por gerações de famílias de agricultores. Exemplo disso é a Fazenda Guaiuvira e Águas do Cedro, fundada em 1927, mais antiga que o município que a abriga, Pompéia, no oeste paulista.
O local produz gado de corte e também foca na recuperação ambiental e manutenção da reserva nativa. Por lá, são mais de mil hectares de vegetação preservada, quantidade muito superior à exigida por lei. A fazenda atualmente é consudiza por irmãos da terceira geração da família Bastos.
“Tudo começou com o meu pai, quando ele assumiu [a propriedade], iniciou o trabalho de conservação de solo. Fomos pioneiros na introdução de curva de nível, de conservação do solo, na recuperação de áreas degradadas, integração de maciços de mata que estavam isolados. Fomos tentando mostrar para a sociedade a importância dessa reserva bastante significativa no oeste de São Paulo, uma região que tem pouca mata, uma região bastante acidentada e com problemas sérios de abastecimento de água”, conta o produtor Mario Bastos.
A destruição causada pelos incêndios
No dia 22 de agosto, a notícia de que o fogo em uma área vizinha estava se aproximando da fazenda preocupou os proprietários.
“As matas são contíguas, então, perdeu-se o controle. É uma área muito acidentada e a mata muito seca. Fomos controlando nas bordas, tentando interromper o curso do fogo em alguns pontos que achávamos estratégicos, mas as condições de vento, de topografia e de calor frustraram todas as nossas tentativas. A mata acabou pegando fogo quase inteiramente, chegando até a ameaçar a cidade”, conta Bastos.
Felizmente, a equipe da propriedade conseguiu remanejar alguns animais de pequeno e grande porte que viviam na mata atingida pelo incêndio.
“Agora estamos correndo atrás para saber como vamos alimentar esses animais. É uma época de pouco pasto e que está reduzida por causa da seca. Então temos que procurar outras fontes de alimento. O prejuízo da mata [destruída pelo fogo] é incalculável. É uma fauna e flora que não tem preço”, relata a produtora Lucia Bastos.
Segundo ela, demorou para as pessoas se conscientizarem de que os incêndios eram sérios. “Só então veio a estrutura da Defesa Civil e dos bombeiros”, diz Lucia.
Segundo Mario, a ajuda veio de pessoas ligadas ao agro, como produtores rurais de propriedades vizinhas e também pessoal do comércio, das indústrias e voluntários que se empenharam dia e noite na tentativa de combater as chamas.
Papel da floresta na agropecuária
O diretor-executivo da SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto, destaca que as florestas protegem as nascentes, os córregos e rios e, portanto, desempenham papel fundamental na garantia de fornecimento de água em quantidade e qualidade dentro das fazendas.
“Essa água é voltada não apenas para o uso das suas instalações, mas também para irrigação. Geralmente as matas estão nas áreas de menor aptidão agrícola e de risco à erosão, então as florestas também contribuem para a conservação do solo”.
Segundo o especialista, a biodiversidade, mesmo aquela invisível dos pequenos insetos, bactérias e fungos, é importante para o equilíbrio ecológico da produção agropecuária. “Os insetos, por exemplo, são importantes para a polinização e para a maior produtividade. Então as florestas entregam muitos serviços ecossistêmicos para o produtor rural”.
Com o cenário de extremos climáticos, o diretor da SOS Mata Atlântica diz ser necessário o produtor rural se adaptar a novas práticas de produção. “Precisamos fazer a agricultura de uma forma diferente, colocando cada vez mais árvores nos sistemas produtivos, nas lavouras, porque elas causam sombra, ajudam na retenção de água e nos ajudam a transitar, a se adaptar a esses momentos extremos”.