Estimativa da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) mostra que os prejuízos ao setor causados pelos incêndios florestais que afetaram diversos estados brasileiros podem superar R$ 2,5 bilhões.
Ao todo, cerca de 390 mil hectares foram afetados, distribuídos entre São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Os dados da entidade foram apresentados durante o webinar “Incêndios florestais: prevenção, combate e impactos no agronegócio”, organizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
“Infelizmente, incêndio é algo imprevisto, sem controle e uma ação indesejada em qualquer atividade agrícola, e que combinados com o clima seco têm causado uma drástica redução na produtividade da cana-de-açúcar. Os produtores de cana ainda estão se organizando para entender os próximos passos, visto que os custos para o replantio e manejo são muito altos”, disse o CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira.
Segundo ele, devido às perdas, a cana só conseguirá rebrotar quando as chuvas chegarem de forma uniforme e volumosa. “Neste contexto, estimamos uma quebra na safra de cana-de-açúcar de cerca de 15% em comparação com a safra passada, o que impactará diretamente na oferta mundial de açúcar, o que, por sua vez, afetará os preços do etanol”, disse.
Recorde de incêndios em SP
Entre janeiro e setembro deste ano, foram registrados quase 8 mil focos de incêndios florestais em São Paulo, maior número da série histórica. Essa quantidade representa uma alta de 433% em relação a 2023, quando houve 1.488 focos. Foram 430 mil hectares afetados neste período, contra 34 mil no ano passado.
O promotor de justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo Flavio Okamoto, presente no webinar, ressaltou que ocorrências simultâneas e numerosas mostraram que é preciso reforçar a capacidade de reação dos municípios e órgãos de defesa e ampliar os treinamentos nessa área.
Segundo ele, há uma proposta do Ministério Público para que haja roçada “cerca a cerca” em todas estradas de São Paulo. “Estamos em conversas avançadas com o Departamento de Estradas de Rodagens (DER) e em discussões com a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) e com a Secretaria de Parceria e Investimentos, pois a ideia é que essa solução seja também adotada pelas concessionárias, e será necessário realizar alterações contratuais”, detalhou.
Influência da vegetação mais fina
O major Jean Gomes, do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de São Paulo (CBPMESP) explicou que foram realizados estudos para medir a influência da vegetação mais fina, como braquiárias e capim colonião, que pode aumentar o combustível disponível para o fogo e ampliar o volume de ocorrências.
Ele citou a realização de um laboratório na Reserva de Jataí (unidade de conservação localizada no município paulista de Luiz Antônio) para uso de queima prescrita, em 2021 e 2022, que alcançou resultado positivo, com diminuição de 91% dos riscos de incêndio naquela área.
O major adiantou, também, que já está sendo trabalhada a regulamentação da Política Estadual de Manejo Integrado do Fogo, instituída pela Lei nº 17.460, promulgada em 2021.
“Os trabalhos têm avançado, porque estamos em busca de uma solução para essa situação. Sem uma prevenção efetiva, não teremos resultados palpáveis e concretos no futuro”, avalia.