Depois de dizimada, a população indígena cresce no Brasil. Só na década de 1990, o crescimento médio foi de quase 11% ao ano, enquanto a média anual do país na mesma época ficou em 1,6%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A estimativa da Fundação Nacional do Índio (Funai) é de que, atualmente, mais de 460 mil índios vivam em aldeias. Só em Mato Grosso do Sul são 65 mil, de seis etnias diferentes.
Assim como todo cidadão brasileiro alfabetizado, e com idade entre 18 e 70 anos, o indígena também é obrigado a votar. Para facilitar o acesso ao voto, a maioria das aldeias recebe as urnas eletrônicas, que são instaladas nos principais pontos do local durante a eleição. Mesmo assim, as lideranças indígenas acreditam que a participação deste povo no processo eleitoral deixa a desejar.
Uma realidade que a vice-presidente da Associação dos Moradores da aldeia Marçal de Souza, Silvana Souza, quer ajudar a mudar. A da qual ela é líder, em Campo Grande, é a primeira urbana do país. O local, inaugurado em 1995, abriga 205 famílias terenas, e assim como em outras comunidades indígenas, um dos desafios é despertar nos mais jovens a consciência da importância do voto.
O trabalho, feito de “boca a boca”, de casa em casa, começa a dar resultados. Rosana Silva Almeida, mãe da pequena Ruth, ouviu os argumentos de Silvana, e decidiu experimentar a responsabilidade de ajudar a fortalecer a democracia do país. Aos 23 anos, vai votar pela primeira vez nestas eleições.
Já Arlene Mendes Fonseca conhece bem os passos do processo eleitoral. Ela diz que nunca deixou de votar, e tem na ponta da língua as demandas que a comunidade quer ver atendidas pelos próximos governantes.
Educação, saúde, moradia: a falta de recursos básicos abre espaço para que os candidatos marquem presença constante no território, disputando a preferência do eleitorado. Mas isso também traz outra grande preocupação: a de que os menos conscientes acabem trocando o voto por favores.
A líder Silvana Souza conta que em eleições passadas era comum candidatos trocarem passagens de ônibus e outros favores para receber votos. Em função disso, o trabalho de conscientização se torna fundamental.
A apreensão traz à tona outros temas que preocupam. Não há informações concretas sobre a quantidade de eleitores indígenas no Brasil. Nem o Tribunal Superior Eleitoral nem a Funai arriscam uma estimativa. Além disso, o número de índios que se candidatam é pequeno, o que segundo o cacique Enio de Oliveira Metelo compromete a luta por maiores reconhecimentos das aldeias. Uma situação, acrescenta o líder terena, que este povo pretende mudar com uma arma simples, mas muito eficiente: o direito de escolher os seus representantes.
Segundo Metelo, o que os indígenas mais querem é ter seus direitos reconhecidos, votar com responsabilidade, e ser tratados como quaisquer outros cidadãos brasileiros.