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Índios de Mato Grosso começam a colher soja, mas não podem vender

Média esperada nas áreas semeadas é de até 55 sacas por hectare. Entenda o embargo que proíbe a comercialização do que vem sendo colhido! Setor produtivo apoia indígenas nesta causa

Pedro Silvestre, de Campo Novo do Parecis (MT)
Em Campo Novo do Parecis, Mato Grosso, cinco grandes áreas de soja chamam mais atenção do que as muitas outras por perto. Não que sejam melhores, ou diferentes, mas sim porque estão em terras indígenas. Juntas somam 9 mil hectares, espalhadas pelo território de Paresi e já começaram a ser colhidas. A expectativa do coordenador agrícola da cooperativa indígena, Arnaldo Zunizakaê é de uma produtividade média de até 55 sacas por hectare. Mas os índios ainda não sabem o irão fazer com os grãos colhidos. Entenda o caso!

Segundo Zunizakaê a soja colhida no território de paresi não pode ser comercializada de maneira legal, devido um embargo governamental. “Essa é a questão que está tirando nosso sono e das associações do povo paresí. No ano passado, sofremos um embargo no sistema de parceria. Existe um acordo que nos permitiu plantar esses nove mil hectares, mas não conseguimos regularizar a questão do licenciamento a tempo, para que pudesse dar origem a essa produção. Por isso estamos preocupados com a comercialização deste produto”, explica.

Entre os motivos do embargo há a denúncia de que, na safra passada, 30% da área de milho foram cultivados com sementes transgênicas, algo proibido na atual legislação em áreas indígenas. O impedimento da regeneração da mata nativa do cerrado, também está entre os empecilhos.

“O povo de paresí tem mais de um milhão de hectares de terras, todas elas no Chapadão Parecís e só abrimos 17 mil hectares, ou seja 1,7% desse total. Essa área produtiva está em locais, vale ressaltar, economicamente inviáveis para se fazer agricultura. Isso porque foi respeitado a área de coleta, de caça e de preservação. É longe de nascentes e das aldeias. Ninguém melhor que o índio para saber o que é importante para a terra. Só queremos o direito de plantar de maneira responsável, respeitando a lei. Pedimos que seja realmente aberto um espaço para que possamos discutir as políticas para adotar a agricultura dentro da terra indígena”, afirma Zunizakaê.

Encontro com a ministra

A oportunidade de discutir os assuntos acima aconteceu durante o primeiro Encontro Nacional de Grupos de Agricultores e Indígenas, realizado na última quarta-feira, dia 13, na própria reserva indígena de Zunizakaê. Além dos indígenas, também estavam presentes alguns representantes do agronegócio, da bancada ruralista, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes e os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles e da Agricultura, Tereza Cristina.

A primeira parada foi na área de produção, bom momento para mostrar a realidade da agricultura praticada pelo povo Paresi.

“As autoridades puderam ver o que o povo paresí faz, ver o que está sendo desenvolvido e que forma estamos trabalhando. Isso dá um pouco mais de crédito para nós, para o governo atender as nossas reivindicações”, afirma o presidente da cooperativa indígena Coopihanama, Ronaldo Zokezomaiakê.

A ministra Tereza Cristina disse durante o encontro que, de fato, a legislação precisa mudar para que os índios possam produzir alimentos de maneira mais efetiva, ter renda e dignidade. A representante do governo ainda defendeu que os indígenas tenham as mesmas condições que os produtores rurais brasileiros têm, ou seja, crédito, licenças, sementes apropriadas, assistências técnicas, infraestrutura e armazéns.

“Porque eles não podem produzir em 20 mil ou 30 mil e ter tudo o que os produtores brasileiros também podem ter. Esta cooperativa é um exemplo e modelo. Hoje é um dia de renascimento para eles, quem sabe esse encontro mude a realidade de miséria e de pobreza que viviam os povos indígenas, mesmo tendo tanta terra”, afirma Tereza Cristina

Já Ricardo Salles disse que o ministério irá criar e dedicar um grupo de trabalho da parte ambiental para dar uma resposta no menor prazo possível sobre o imbróglio envolvendo a produção e o meio ambiente das tribos.

“É um assunto que envolve questões do judiciário, já que tem participação do Ministério Público, através de termos de ajustamento de conduta. Então é uma discussão que precisa ser feita com todos os envolvidos. Mas da parte ambiental, vamos dar total prioridade para que não haja uma frustração e um prejuízo à comunidade paresi, a esses índios que trabalharam tanto para chegar a esta situação”, conta.

Setor produtivo apoia

Alguns representantes do setor produtivo, presentes no encontro, também defenderam as causas defendidas pelos indígenas.

“O índio precisa ser integrado, como qualquer agricultor, nas cadeias produtivas. O fato de ter áreas extremamente favoráveis a fazer agricultura, principalmente em uma região como essa aqui precisa ser explorado. Aliás, não só essas, mas no Brasil inteiro. É preciso levar em consideração um melhor padrão de vida para essas pessoas que vivem dentro das reservas indígenas”, diz Antônio Galvan, presidente da Aprosoja Mato Grosso.

O presidente da Famato, Normando Corral, que áreas como estas não deveria ficar descobertas e sem produção de alimentos. “Os índios são produtores como nós. vamos quebrar esse paradigma!”, conta.

Já o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, ressalta que os índios foram os primeiros agricultores do Brasil e é preciso ajudá-los na tarefa de produzir alimentos.

“Por que não aproveitar estas tecnologias (transgênicos), principalmente para a renda de suas famílias? Estamos aqui com esse objetivo, de dar garantias a essas comunidades indígenas que poderão produzir, porque serão inseridas nessa grande produção que é o Brasil hoje”, finaliza.

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