Segundo a administradora da Fundação Nacional do Índio (Funai) para a região sul do Estado, Margarida de Fátima Nicoletti, os dois desaparecidos, conhecidos como Olindo e Jenival, são professores e acompanhavam o grupo de pelo menos 18 índios que havia ocupado a fazenda na última quarta, dia 28, passada.
? É uma grande propriedade e, ao que parece, o dono demorou a saber [da presença dos guaranis]. Ainda não temos informações exatas sobre o que aconteceu, mas alguns índios garantem que pistoleiros os colocaram para fora da fazenda com violência, disparando balas de borracha e que, na ação, os dois professores sumiram ? disse Margarida, explicando que ainda não tem o levantamento com o número de feridos.
Embora índios que presenciaram a confusão garantem que Olindo e Jenival foram detidos pelos seguranças da fazenda, Margarida diz não estar descartada a hipótese de que os dois estejam escondidos, com medo dos seguranças, aguardando pelo melhor momento para escaparem. Já a assessoria da PF em Naviraí considera a possibilidade de ambos terem se embrenhado no mato e atravessado a fronteira para o Paraguai.
? Os próprios índios estão ajudando nas buscas e o clima está muito tenso porque muitos deles acreditam que eles tenham sido mortos. A comunidade está revoltada e já manifestou que se o Olindo e o Jenival não forem encontrados logo, eles vão reunir pelo menos 200 pessoas e vão entrar na fazenda para procurar por eles. A gente está tentando contornar essa situação, mas até quando vamos segurar isso nós não sabemos? declarou Margarida, por telefone.
De acordo com Margarida, cerca de 45 mil indígenas guaranis e kaiowá vivem no sul do Estado ? pelo menos 350 deles na Aldeia Pirajuí. Juntos, eles reivindicam a demarcação de pelo menos 32 áreas ditas tradicionais, alegando que seus antepassados viviam nelas. De acordo com Margarida, a Fazenda Triunfo – cujo tamanho e situação legal ela não sabe precisar ? está sobre uma destas áreas.
? Os índios vivem em territórios muito pequenos e estão revoltados, reclamando a demarcação de novas áreas indígenas nos locais que seus antepassados habitaram. A Funai precisa mesmo se empenhar e dar continuidade a esses estudos [antropológicos] e a sociedade toda tem que colaborar já que muitos proprietários não querem [a demarcação] e deixar de dizer que o problema dos índios não é terra. Aqui [no Mato Grosso do Sul], grande parte dos conflitos, da violência, é por falta de espaço, pois os índios já provaram que não querem ir para os grandes centros urbanos e deixar de ser índios ? finalizou a coordenadora.