O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT), em parceria com o Sindicato Rural de Primavera do Leste, está levando cursos para qualificar indígenas a trabalharem com agricultura mecanizada. A esperança é de que por meio da produção de grãos, os índios Xavante consigam sair da miséria.
José Aloísio Tsimitsuté deixou a família e percorreu mais de 600 quilômetros até a reserva Paresi, em busca de novos aprendizados. Ele já tem três cursos de capacitação no currículo: manutenção de tratores, operador de máquinas agrícolas e aplicação de defensivos.
Nem mesmo a diferença entre os dialetos das duas etnias impede Tsimitsuté. “Não importa o fato de não entender a língua deles. O que me importa é mostrar o meu trabalho e o meu conhecimento; essa será a minha língua entre eu e os meus parentes”, diz.
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Presidente da cooperativa indígena Coopihanama, Ronaldo Zokezomaike afirma que a força de vontade faz os povos se entenderem. “A linguagem aqui é a do conhecimento, e é isso o que importa”.
O cacique xavante Domingos Mahoro afirma que a experiência está sendo ótima para os dois lados. “É de grande importância para nós. Substituir a miséria pelo agronegócio será a nossa maior alegria no futuro”, diz.
Cerca de 60 indígenas xavante participaram dos cursos, ministrados entre maio e outubro de 2019. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste, José Nardes, uma dúzia deles já estão trabalhando no município.
“A nossa ideia é repetir o que foi feito com os Paresi: primeiro, eles aprendem a trabalhar junto com a gente e depois, quando acaba a parceria, vão tocar a vida deles sozinhos. Os Paresi criaram a própria cooperativa e hoje andam com as próprias pernas”, destaca Nardes.
O coordenador técnico da Funai em Campo Novo dos Parecis, Joelson Avelino da Silva, afirma que o desejo dos indígenas não é riqueza, mas sustentabilidade. “É para manter sua comunidade e cultura. Querendo ou não, hoje, tem que ter dinheiro, senão não consegue manter”, argumenta.
À espera do governo
As etnias ainda aguardam a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta que garantirá total autonomia para agricultura em grande escala nas reservas. Enquanto isso, os paresis seguem amparados por uma autorização do Ibama e os xavantes ainda lutam contra a miséria e a fome nas aldeias, com cerca de 130 mil hectares reservados para o cultivo.
“Se a gente não conseguir esse TAC, será extinguida a grande Sangradouro, que está se tornando em pinga, falta de alimento. O povo está desmotivado e nós precisamos produzir”, afirma Aguinaldo Pereira dos Santos, coordenador indígenas dos xavantes.