Dílson Ingarikó foi um dos primeiros alunos formados pela Universidade de Roraima em licenciatura Intercultural e tem planos para o local. Com um sorriso no rosto, o índio quer levar mais conhecimento ao seu povo.
? Eu quero contribuir agora com as comunidades que estão na base, criando mais centros de formação, no meu caso, na região do povo Ingarikó que está localizado no Monte Roraima. Queremos trabalhar na formação de agentes ambientais e gestores de territórios, gestores sociais e em educação ? diz o jovem.
Outro visionário é Idaiel Souza, do Centro de Desenvolvimento Indígena Kaipita, em Contão (RR). Morador da comunidade, também na reserva, ele só pensa no desenvolvimento econômico da região.
? Na comunidade do Contão, a gente irá produzir sim, da mesma forma que eles estão produzindo aqui. Nós vamos produzir da mesma forma, usando a mesma tecnologia e usando todos os recursos para ter uma agricultura e pecuária atualizadas.
A paisagem da Raposa revela a vegetação do cerrado brasileiro. Entre as extensas planícies, sinais do sustento dos índios: um rebanho de 35 mil cabeças de gado. Longe da poluição urbana, a tranquilidade do rio Surumu abastece a principal entrada da reserva, onde parte da população prefere não aparecer.
A comunidade indígena que lutou pela demarcação contínua da reserva não quis gravar entrevista e nem permitiu que a equipe do Canal Rural fizesse imagens das famílias. O tuxaua, nome dado ao líder da aldeia, disse apenas que todos estão muito felizes e que já estão se organizando para administrar as novas terras.
Francisco Roberto do Nascimento, morador da Vila Surumu, explica que os índios estão muito apreensivos depois de tantos anos de luta.
? Foi lá que se concentrou o maior conflito, por estarem lá os dois ou três maiores fazendeiros, os maiores produtores de arroz. Por isso que a vila transformou-se num ponto ápice do conflito ? diz Nascimento.
Segundo o presidente do Conselho Indígena de Roraima, Dionito José de Souza, vivem hoje na Raposa Serra do Sol mais de 19 mil índios. A população já começou a se reunir para discutir projetos para a área de 1,75 milhão de hectares.
? Lá não irá existir um patrão, uma propriedade individual. Não vai ter individualismo. A gente vai criar gado, com nossas famílias, vai ter nossas casas, mas a terra é coletiva ? afirma Souza.
José Lourenço dos Santos, presidente da Associação Indígena de São Marcos, reserva homologada em 1998, quer levar a experiência dos seus povos para as comunidades da Raposa. Ele prevê um grande crescimento local.
? É um futuro promissor, é um futuro que ninguém vai segurar. Daqui uns dias, quem vai exportar arroz somos nós lá dentro ? declara o dirigente.
Por trás de todo projeto para a Raposa Serra do Sol, está a Funai. O administrador regional, Gonçalo Teixeira, esclarece que a intenção é desenvolver uma atividade agropecuária sustentável, assim que todos produtores saírem das terras.
? Esperamos que todo esse trabalho seja facilitado com a saída espontânea de alguns ocupantes que hoje ainda se encontram na terra indígena Raposa Serra do Sol ? finaliza Teixeira.