Indústria de carnes brasileira inova e busca novos mercados para enfrentar crise

Alta do dólar torna o produto brasileiro mais competitivo no comércio exteriorInovar na produção e na busca de mercados alternativos é, segundo especialistas, a saída para o setor da carne bovina brasileira enfrentar a crise. Confira na última reportagem da série a nova indústria da carne, os impactos da turbulência econômica nos frigoríficos do país.

A desvalorização do real frente ao dólar, provocada pela crise financeira mundial, derrubou as ações das empresas do setor de alimentos, especialmente aquelas que têm dívidas em moeda estrangeira. Foi o caso dos frigoríficos brasileiros que hoje estão presentes na bolsa de valores. As ações do JBS Friboi, do Minerva e do Marfrig despencaram, e os efeitos do cenário econômico não atingem só o mercado de capitais. A crise vem provocando recessão nos principais países compradores de carne bovina, e assim a demanda pelo produto diminui, o que pode impactar os números das exportações do setor em 2009.
 
? Vai atingir em cheio. Porque tem muitos países em situação pior que a nossa. Os países do leste europeu, inclusive a Rússia, estão com dificuldades imensas de comprar produtos brasileiros. Vários países reduzindo a compra, e isso vai afetar. Mas vai afetar a indústria bovina, suína, aves, soja, todos os setores ? alerta o pesquisador do Centro de Pesquisa e Economia Aplicada (Cepea), Sérgio de Zen.
 
Por outro lado, o dólar vem ajudando a amenizar os efeitos da crise na rentabilidade dos frigoríficos. A alta da moeda estrangeira torna o produto brasileiro mais competitivo no mercado e compensa a queda das cotações internacionais. Nos últimos meses, o preço da arroba no Brasil voltou aos níveis dos concorrentes locais, cerca de R$ 88, valor equivalente a US$ 36, próximo aos preços praticados no paraguai e no uruguai. Mas os frigoríficos começam a verificar queda de até 20% no preço da carne exportada para União Européia e Rússia. A situacao preocupa porque 31% dos embarques têm como destino o mercado russo, o maior comprador da carne brasileira.

? O pessoal negocia preços, renegocia prazos de entrega e não tem financiamento. Assim como caiu o financiamento aqui, caiu para importação. Esse efeito do nível de financiamento é que gera uma realocação. Então vamos trabalhar com menos estoques, e quando esse ajuste está em curso há uma queda nas exportações ? explica o ex-ministro da agricultura Marcus Vinicius Pratini de Moraes.

Mesmo com a queda nos preços e nas exportações, o diretor de um dos maiores frigoríficos do mundo acredita que se a oferta de matéria prima no mercado for garantida, a companhia brasileira vai conseguir manter as margens de lucro. O executivo aposta na variedade dos produtos oferecidos pela empresa para consolidar o resultado nos próximos meses.
 
? Nós temos uma diversificação da produção para aproveitar as oportunidades de consumo global. Nós esperamos consumo melhor de boi no Brasil, Argentina e Austrália, e um melhor desempenho de carne suína nos EUA e bovina no Hemisfério Norte ? fala o diretor de relações com investidores da JBS, Jeremiah O´Callagham.
 
Sérgio de Zen concorda que a busca de novos mercados e a diversificação de produtos podem atenuar os efeitos da crise na indústria. Ele destaca que o Brasil, apesar ser o maior exportador de carne bovina do mundo, hoje vende no Exterior apenas 22% do que produz. O restante é consumido no mercado interno.
 
? A indústria que está em vários países e tem várias linhas de produto tendem a sofrer menos. O Brasil aprendeu que o país tem uma demanda interna de carne muito grande ? afirma.

Os cinco maiores grupos da indústria da carne no Brasil atendem 35% do mercado interno. Frigoríficos de pequeno e médio porte respondem pelos outros 65%. Estas empresas já estão sentindo os efeitos da falta de crédito gerada pela crise financeira. Algumas plantas tiveram que paralisar as operações e precisaram dar férias coletivas aos funcionários.

? Os frigoríficos menos capitalizados, devido à falta de crédito, tendem a sentir mais que os capitalizados. Então, como todos os segmentos, nós vamos ter algumas reorganizações, consolidações. Mas o setor de alimentos é o que menos sofre com crises deste tipo ? diz Pratini de Moraes.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec),  Roberto Giannetti da Fonseca, a tendência é que o setor continue crescendo em 2009, mesmo com a crise.
 
? Um ou outro consumidor pode ter problema. Mas não vejo nada grave que vá abalar o resultado das empresas, que vão seguir crescendo, têm capacidade de expansão, de mercado em países emergentes. O setor de carne no Brasil é muito competitivo e vai continuar fazendo sucesso.