Indústria nacional do tabaco sofre prejuízos com a desvalorização do dólar

Redução de receita e perda de competitividade no Exterior são principais danosNa balança do câmbio, 2011 promete ser um ano decisivo para a indústria brasileira do tabaco. Empresas instaladas no país, maior exportador do produto no mundo com pelo menos 85% da produção enviada ao Exterior, vêm sofrendo com a contínua desvalorização do dólar. Nem mesmo a qualidade e a produtividade em alta, com safra recorde, conseguem segurar a rentabilidade, que já apresentou perdas no ano passado.

Com a moeda americana abaixo de R$ 1,70, nem mesmo a redução de custo tem sido uma alternativa viável para enfrentar a queda de receita, como observa o presidente do Sindicato das Indústrias do Tabaco (Sinditabaco), Iro Schünke:

? Gradativamente, o câmbio vem baixando. As empresas já reduziram seus custos, mas os valores de mão de obra, matéria-prima e energia, por exemplo, subiram. Isso torna a diferença maior ainda.

Além da redução de receita das indústrias, a perda de competitividade do tabaco brasileiro no mercado externo preocupa o setor.

? À medida que a moeda local se valoriza, a empresa se torna menos competitiva e isso reflete negativamente nas exportações também ? ressalta o diretor regional financeiro para a América do Sul da Alliance One Brasila, Rolf Waechter.

Com 4,5 mil colaboradores entre efetivos e temporários em suas unidades, a empresa ? cujas exportações somam 95% do total produzido e beneficiado ?, tem buscado novas oportunidades, como o contrato de processamento para terceiro para enfrentar a situação.

Diretor de fumo da Souza Cruz ? empresa que tem 67% da produção exportada e emprega 11 mil pessoas entre permanentes e temporários ?, Dimar Frozza acrescenta que todo o trabalho de qualidade desenvolvido vai por água abaixo face a uma taxa cambial desfavorável. Países como Estados Unidos, Zimbábue e Índia, por exemplo, têm conseguido oferecer preços mais baixos e, com isso, vêm ganhando espaço.

? A situação é muito difícil. O Brasil conseguiu chegar ao posto de maior exportador mundial porque tinha, além da qualidade e volume, preço competitivo. Mas essa valorização do real fez com que, hoje, o tabaco brasileiro seja o mais caro do mundo ? alerta Schünke.

Não bastasse o preço mais atrativo, o acréscimo no plantio do produto em outros países também traz preocupação. No continente africano, o aumento na produção da variedade virgínia em 2010 foi de 64,5% em relação à safra 2008/2009, passando para 263,66 mil toneladas. Entre os destaques está o Zimbábue, que ampliou em 108,5% a sua produção ? passando de 59 mil toneladas para 123 mil toneladas. Na Tanzânia, o aumento também foi alto: 54,2%.

Outro motivo de inquietação vem de uma mudança na postura do mercado interno, alerta Frozza:

? Ao mesmo tempo em que o Brasil está perdendo mercado de exportação, começou a importar fumo, coisa que não fazia.

Sem uma alteração na taxa cambial, uma das bases da indústria do tabaco local, o sistema de produção integrada poderia ser afetado, no entendimento do diretor da Souza Cruz, tanto com a diminuição do volume comprado quanto do número de produtores contratados. Só a Souza Cruz tem cerca de 38 mil agricultores trabalhando nesse modelo ? sendo 19 mil deles no Estado.

? O receio é que nossos clientes não resistam mais um ano. Já há uma indicação de que devem comprar menos se o Brasil não tiver preço competitivo ? completa o diretor.