Indústria refaz programação com quebra de safra de soja, dizem representantes do setor

Colheita nove milhões de toneladas menor do que no ciclo passado provoca alta nos preços da oleaginosaA produção menor de soja em 2011/2012 devido à estiagem na região Sul obriga a indústria esmagadora a administrar os estoques, a fim de manter as unidades em funcionamento e não comprometer as margens. Com uma colheita nove milhões de toneladas menor neste ciclo, as processadoras se deparam com uma matéria-prima mais cara e tal cenário só deve mudar com a entrada da nova safra, em janeiro de 2013. Algumas garantiram o suprimento com operações de hedge em bolsa. Outras devem disputar produto com

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) confirma que em anos de quebra de produção a ociosidade da indústria aumenta, mas a margem de lucro tende a ser preservada. Qualquer despesa adicional é repassada, segundo Fábio Trigueirinho, secretário-geral da entidade. A soja tem peso de quase 5% no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA). A Abiove projeta uma redução de 5% no esmagamento de soja no ano comercial 2012/2013 – que começou em fevereiro e acabará em janeiro do próximo ano -, para 35,3 milhões de toneladas.

– Quem deve arcar com a escassez (de soja) é a indústria local, que deve reduzir as atividades até o fim do ano – avalia Marcos Rubim, analista da consultoria Agroconsult.

Robson Mafioletti, analista técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), espera uma antecipação da tradicional parada técnica das esmagadoras para manutenção.

– Estamos na metade do ano e as fábricas param entre dezembro e janeiro. Devemos ter uma antecipação.

Rubim prevê que a concorrência entre a indústria processadora e os exportadores deve se acirrar nos próximos meses por causa do câmbio favorável aos embarques e da firmeza das cotações internacionais da oleaginosa, que acumulam valorização de quase 13% neste ano. No porto de Paranaguá, o preço da soja bateu o recorde de R$ 67,50 a saca em 13 de junho, conforme aponta o economista da Agrosecurity Filipe Prince.

– Tradicionalmente, os prêmios (de exportação) não são tão elevados no primeiro semestre, mas neste ano vimos uma coisa atípica devido à falta de produto – explica Prince, referindo-se também às perdas observadas na Argentina.

Cooperativas

Para as cooperativas, a situação é mais complicada, observa o economista da Agrosecurity. Diferentemente de gigantes como ADM, Cargill e Bunge – que possuem um portfólio variado de fornecedores -, elas dependem dos cooperados para obtenção de matéria-prima. A Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol), que atua no oeste do Paraná, recebeu apenas 220 mil das 360 mil toneladas esperadas e optou por suspender as operações de tempos em tempos para preservar os estoques.

– Essa é uma estratégia momentânea. Temos soja suficiente para atender às nossas fábricas de ração, mas se continuássemos vendendo no mercado não teríamos o suficiente para atender a nossa demanda – diz João Carlos Medeiros, assessor comercial de cereais e responsável pela unidade industrial de soja da Copacol, inaugurada em janeiro de 2012.

A Cocamar Cooperativa Agroindustrial, com sede em Maringá (PR), tem buscado matéria-prima em outros Estados, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

– A partir de setembro, vemos dificuldade em manter os níveis (de moagem) do ano passado –  relata José Cícero Aberaldo, superintendente de negócios da cooperativa.

Ele não descarta uma antecipação do período de manutenção nem uma diminuição da margem de lucro.

– Tudo vai depender da soja que encontrarmos no mercado – afirma.

Já a Coamo Agroindustrial, maior cooperativa da América Latina com sede em Campo Mourão (PR), se protegeu da alta dos preços por meio de operações de hedge em bolsa, conta o presidente da entidade, José Aroldo Gallassini.

– Nos esforçamos para comprar do produtor, pagá-lo e segurar o produto. Temos um ano diferente, tivemos que nos adaptar e vamos operar até o final – diz.

Segundo ele, pode não haver estoques na entrada da nova safra, mas não há risco ao abastecimento interno.

– Não se tem notícia de que poderá faltar produto, mas o preço pode subir mais – afirma.

Trigueirinho, da Abiove, reforça:

– Não teremos problemas de abastecimento.

Importações

De acordo com o Ministério de Agricultura, as importações brasileiras de soja em grão tiveram pequeno incremento nos primeiros cinco meses do ano. Somam 17,2 mil toneladas, ante 15,4 mil toneladas de igual período de 2011.

– Essa quebra de safra que nós tivemos realmente impactou. O que tem já foi vendido e o Brasil pode importar um pouco de soja dos Estados Unidos – acredita Mafioletti, da Ocepar.

Para 2012/2013, a perspectiva é positiva, com a possível expansão da área plantada, em resposta aos altos preços da soja.

– A indústria deve restabelecer o nível de atividade normal, deve ter soja para esmagamento e exportação – projeta Marcos Rubim, da Agroconsult.

De acordo com a consultoria, 33,9 milhões de toneladas devem ser processadas em 2012, abaixo das 37,3 milhões de toneladas do ano passado. Em 2013, o volume deve se recuperar para 37,4 milhões de toneladas, segundo a empresa.