Os efeitos da crise atingiram em cheio uma empresa de Portão, na região metropolitana de Porto Alegre, que exporta para mais de 40 países. A redução nos pedidos começou ainda em 2008.
? A partir de setembro, houve uma grande queda na demanda internacional pelo produto couro e não só pelo produto couro, por todos os produtos ? diz o empresário Leugenio Alban.
Os maiores clientes do couro brasileiro são a China, Hong Kong, Itália e Estados Unidos. O setor movimentou US$ 1,8 bilhão no ano passado. Entretanto, a cotação do couro caiu muito.
Em junho de 2008, as peças de couro acabado eram vendidas por US$ 99. Um ano depois, o preço despencou para US$ 61 por couro. A queda do wet blue, a chamada serragem do couro, foi ainda maior. De US$ 51 em junho de 2008 para US$ 26 no mesmo mês de 2009.
? Nós fizemos um trabalho interno muito grande. Não tivemos, graças a Deus, de reduzir o quadro funcional. Fizemos uma série de adaptações ? acrescenta Alban.
A queda no preço do couro derrubou o faturamento das empresas. Porém, o setor está otimista com a recuperação do volume exportado que se aproxima dos números do primeiro semestre do ano passado.
Foram 166 milhões de quilos vendidos para o exterior nos primeiros seis meses de 2008. Em 2009, 151 milhões de quilos, o que significa uma queda de 8%.
? Nós temos tentado sensibilizar o governo para mostrar que é um setor que emprega mão-de-obra e que o couro processado, o couro acabado, rende quatro vezes mais que as matérias primas, do que as commodities, como o couro salgado e o couro wet blue. Infelizmente, nós temos tido pouco sucesso. Bem que o setor mereceria, pela agregação que tem de mão-de-obra, mereceria um tratamento especial, como tiveram os automóveis, com redução de imposto, qualquer coisa que fizesse nesta área o setor exportador iria dar de retorno com grande vantagem ao governo ? conclui o presidente da Associação da Indústria de Curtumes do Rio Grande do Sul, Francisco Gomes.
Quem trabalha com o mercado interno também busca maneiras para sair do vermelho. Em uma empresa de São Leopoldo, 90% do couro processado vai para as fábricas de calçados do Brasil. Para recuperar o volume de vendas e o faturamento, a aposta é na criatividade.
? O mercado internacional acabou refletindo dentro do mercado brasileiro. Então, o que nós estamos fazendo para tentar superar este problema é criar novas opções para nossos clientes no mercado interno, de artigos novos, e também, o preço do couro caiu bastante em relação ao ano passado. Então, hoje, a indústria calçadista, no mercado interno, pode usar nas suas coleções, muito mais couro do que no ano passado ? finaliza o empresário Sérgio Panerai.