Dois indicadores de preços divulgados ontem mostram exatamente que os alimentos, tidos como os grandes vilões da disparada da inflação pelo Banco Central, começam a dar trégua. O Índice de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, calculado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria da Agricultura, subiu 2,7% na primeira quadrissemana deste mês. O ritmo de alta é 0,6 ponto porcentual menor que o registrado no final de março (3,3%). Também quebra a tendência de alta de sete semanas consecutivas.
De 18 produtos pesquisados, cinco deles tiveram queda nos preços na primeira quadrissemana deste mês. A maior retração ocorreu na soja (-6,2%), seguida pela laranja para mesa (-5,67%), frango (-3,97%), laranja para indústria (-2,82%) e arroz (-0,74%). Danton Leonel de Camargo Bini, pesquisador do IEA, observa que, com o início da safra de cana-de-açúcar que já está começando, o indicador poderá arrefecer ainda mais. A cana pesa 60% nesse índice preços.
O índice de preços dos produtos agropecuários elaborados pela RC Consultores, que mede a variação das cotações no atacado, mostra um recuo médio de 0,7% nos primeiros dez dias deste mês na comparação com o final de março. De 17 produtos pesquisados, dez recuaram e o campeão de queda foi o tomate (-7,7%), seguido pela laranja (-7,4%), carne suína (-5,1%) e o milho (-3,2%). Nas contas da consultoria, o nível médio de preços no atacado deste mês é 1,9% menor em relação ao nível médio registrado em março.
Entre os fatores apontados por Fabio Silveira, diretor da RC Consultores, para o recuo dos preços dos alimentos, ele destaca a entrada da safra de grãos no mercado. Também nos últimos 30 dias houve uma diminuição nas cotações de importantes commodities agrícolas, como açúcar, cujos preços em dólar já caíram 30%, e a soja, que dá sinais de retração. Neste caso, ele observa que o que está minando a escalada de preços é a perspectiva de menor crescimento do PIB global, com o avanço da cotação do petróleo. A valorização do câmbio também ajuda a colocar água na fervura dos preços.