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Agricultura

Internet explode no campo e deve continuar avançando

Iniciativa de empresas privadas conseguiu conectar 14,1 milhões de hectares em quatro anos usando frequência de TV analógica

Máquinas autônomas, aplicação inteligente de defensivos, coleta e gerenciamento de dados, gestão e avaliação remota da frota, são exemplos de tecnologias cada vez mais avançadas que estão à disposição dos produtores brasileiros.

Mas o fato de estarem disponíveis no mercado não significa que agricultores, até mesmo os mais capitalizados, possam utilizá-los com facilidade. No país, eles esbarram em um problema: a falta de conectividade no campo. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, cerca de 70% das propriedades rurais não têm acesso à internet.

Na edição da Agrishow de 2019, nasceu uma parceria entre empresas que, mesmo concorrendo em alguns segmentos, tem o objetivo de levar a conexão aberta a áreas rurais.

Usando o sinal da TV analógica, que foi desligada naquele ano, a agora Associação ConectarAgro passou a usar a frequência de 700 MHz para levar 4G ao campo. E o empreendimento deu certo. Neste ano, a Associação anunciou que a cobertura chegou a 14,4 milhões de hectares de áreas rurais, o dobro do ano passado. São 90 mil imóveis rurais e 1,1 milhão de pessoas.

A Associação também foi responsável pela cobertura de mais de 29,2 milhões de hectares de soluções de Internet das Coisas. O NB-IoT é necessário para conectar máquinas e sensores, ferramentas importantes para o desenvolvimento do agronegócio, podendo ampliar em mais de 40% a cobertura tradicional em relação ao uso de smartphones, além de consumir menos bateria.

“A conectividade é essencial para a sustentabilidade do sistema produtor brasileiro. Além de ser fundamental para atingir a máxima eficiência com a aplicação de tecnologias no campo, ela também beneficia a sociedade. Atualmente, 65 unidades básicas de saúde e 221 escolas públicas em áreas rurais também se beneficiam do sinal”, diz afirma a presidente da ConectarAgro, Ana Helena de Andrade.

Mais empresas e parcerias

Nesta quarta-feira (3), a ConectarAgro, que é formada por AGCO, Bayer, CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec, TIM e Trimble, anunciou na Agrishow, que acontece em Ribeirão Preto (SP), a chegada de duas novas integrantes: AWS (Amazon Web Services) e Vivo; que auxiliarão a expansão do acesso à internet nas mais diversas regiões agrícolas do Brasil, incluindo as mais remotas.

Além das novas empresas, a presidente da entidade falou sobre a criação do Indicador de Conectividade Rural (ICR).

A associação assinou em conjunto com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), um memorando de intenções para estudar o impacto da conectividade no campo.

“Atualmente, os índices que nós temos são com foco no urbano. Esse estudo será exclusivo para o campo, para saber qual é o tamanho do impacto da conectividade no ambiente rural, nas lavouras. A universidade vai entrar com a metodologia e conduzir o estudo. Assim teremos parâmetros para medir o impacto da internet no campo”, afirma Ana Helena de Andrade.

É preciso conectar mais

 

Segundo o head de marketing corporativo IoT da TIM, Alexandre Dal Forno, que está na Associação desde a fundação, a demanda por conectividade está muito alta. Na avaliação dele, o produtor brasileiro está cada vez mais familiarizado com a tecnologia e sabe que com ela é possível economizar e produzir mais.

“Hoje não é mais uma novidade. O vizinho dele tem; ele consegue enxergar os resultados. Na agricultura empresarial, a demanda está muito forte, em partes de Mato Grosso, do Matopiba, a procura é grande. O produtor sabe que não faz mais sentido ficar usando o rádio para se comunicar com o operador. E que com internet ele pode extrair todo o potencial das máquinas”, afirma. Na avaliação de Dal Forno, a pandemia também acelerou esse processo.

“Se a pandemia mudou a forma como fazemos compras pela internet, imagina com o produtor que estava isolado na propriedade. A procura, até pela comunicação, aumentou muito e vai continuar grande”.

Novos desafios de conexão à internet

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Foto: Pixabay

Para o primeiro presidente do ConectarAgro, Gregory Riordan, que é diretor de tecnologias digitais da CNH Industrial para a América Latina, o desafio agora é levar internet e conexão para médios e pequenos produtores rurais.

“É preciso que produtores rurais se organizem, que os sindicatos rurais, cooperativas agrícolas sejam pressionadas para adotarem conexão. Nos últimos anos, nós tivemos um sucesso muito grande trabalhando com cooperativas, em que muitos produtores foram beneficiados”. Atualmente, 90 mil médios e pequenos agricultores rurais são atendidos pela ConectarAgro.

Riordan concordo com Dal Forno sobre a demanda. “No ano que vem, acredito que vamos anunciar um crescimento maior ou do mesmo tamanho do anunciado neste ano”, acredita.

Na avaliação de Riordan, além da associação, que é formada por empresas privadas, o poder público também precisa prestar atenção nesta questão e diz que a ConectarAgro conversa constantemente com entes governamentais para ampliar a cobertura da internet no campo. “Deve ser uma preocupação de todos, porque é um caminho sem volta”, diz.

Nesta semana, no início da Agrishow, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, prometeu levar internet para 100% das propriedades rurais do estado.

“Estou conversando muito com as empresas de telefonia. O objetivo do governo do estado é chegar a 2026 com zero lacuna de conectividade, ou seja, cada ponto de vazio do estado de São Paulo está sendo mapeado, de maneira que o produtor tenha acesso à internet com pelo menos 4G, porque, como essas máquinas estão cada vez mais potentes, a gente precisa levar internet para o campo e trabalhar na capacitação para ir digitalizando paulatinamente o pequeno e o médio [produtor]”, disse.

Em outros estados brasileiros, governadores também já se manifestaram sobre o assunto, como em Mato Grosso e Paraná.

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