As irmãs agricultoras Marlucia Alves Morelli, 55, e Maria Pereira Alves Costa, 63, tiveram muitos motivos para desistir da produção e abandonar a propriedade localizada na Gleba Santa Terezinha, zona rural de Itaporã, no Mato Grosso do Sul.
Em alguns anos, as geadas acabaram com os frutos, fizeram a produção “virar pó”. Depois, a pandemia interrompeu as vendas para a merenda escolar. Mas elas persistiram e investiram na propriedade que haviam comprado com “muito suor”. Não é sem razão que, atualmente, o lugar se chame Doce Conquista.
A atividade rural começou quando as duas irmãs decidiram comprar um “terreno que ninguém dava nada” com o dinheiro da aposentadoria. Preparam a terra, começaram a plantar diversas culturas como milho e soja, mas decidiram que o caminho estava na fruticultura, principalmente na produção de goiaba.
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Em 2005, com apoio da mãe, Dionilda Pereira Alves, a família obteve um financiamento e começou a produzir goiaba. Dois anos depois nascia a marca Doce Conquista, com a produção de geleias e goiabadas com a receita de dona Dionilda.
Apenas em 2009 as irmãs começaram a vendar a produção de goiaba para a merenda escolar por meio dos Programas Nacionais de Alimentação Escolar (PNAE) e de Aquisição de Alimentos (PAA).
Mas em 2013 veio o primeiro baque: uma geada na região dizimou a plantação. “Acabou com tudo, menos com nossa persistência”, afirmou Maria.
As irmãs então reconstruíram toda a lavoura com recursos próprios, mas uma nova geada, quatro anos depois, destruiu tudo novamente. “Foi muito triste ver a fruta que você cuidou caindo e se perdendo”, disse Marlucia. Com muito trabalho, com o dinheiro do seguro rural, elas conseguiram retomar a produção e as vendas para o PNAE e para o PAA.
Os negócios ainda se recuperavam após as duas geadas quando Maria e Marlucia conheceram o técnico de campo do Serviço Nacional de Aprendizado Rural (Senar) Erick Fernandes e passaram a receber a Assistência Técnica e Gerencial (ATeG). Já no primeiro ano de atendimento, a produção de goiabas aumentou em 50%.
Mas em 2020, as produtoras sofreram um novo revés: a pandemia da covid-19 fechou todas as escolas e, com isso, a venda das goiabas para os programas de alimentação escolar foi paralisada. Mais uma vez toneladas de goiaba se perderam.
“As nossas famílias dependiam da produção de goiaba. Foi terrível, muito triste”, lembra Marlucia.
E foi aí que as irmãs, então, aproveitaram a assistência do Senar em outra parte da cadeia produtiva: a agroindústria, aprendendo como administrar melhor o negócio e a gerenciar a receita da marca Doce Conquista.
Com a chegada do Senar, elas afirmam que as coisas mudaram para melhor. Maria conta que na adolescência foi babá e quando tinha festa de aniversário das crianças, anotava as receitas dos docinhos num caderno, mas nenhum que precisasse de liquidificador ou geladeira porque a família não tinha nem perspectiva de ter.
“Hoje tenho liquidificador, duas geladeiras, dois freezers e a câmara fria na agroindústria em conjunto com a Marlucia. Com a chegada do Senar nossa vida melhorou ainda mais.”
Quando tudo estava melhor na propriedade, em 2021 uma nova geada fez as irmãs perderem tudo novamente. Dessa vez, elas pensaram em desistir, em “vender tudo e ir embora”. Mas a assistência técnica do Senar e as orientações do técnico de campo sobre adubação, irrigação, manejo adequado e poda contribuíram para uma rápida recuperação das plantas e para o aumento significativo da produção.
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“Esse ano (2023) tivemos uma super safra, colhendo uma tonelada por semana, tudo com técnica, com conhecimento. Os clientes dizem que nossa goiaba é mais doce, firme, que tem qualidade, e isso graças às orientações do técnico. O Senar faz toda a diferença em nossa vida”, diz Maria.
As duas irmãs são casadas e têm filhos. O marido de Marlucia e o filho mais velho, Caio Morelli, trabalham na propriedade, assim como o marido de Maria. Já o filho dela estuda medicina em outro município, e o mais novo de Marlucia também estuda fora.
Caio já é formado em técnico em agronegócio pelo Senar e planeja fazer o de Técnico em Fruticultura. “É bom demais trabalhar aqui. Falo para minha mãe que não vou sair daqui não.”
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“Procuro mostrar para meus filhos que dá para eles viverem com a propriedade, que não precisam sair. Estão estudando, podem continuar, mas que continuem administrando, porque esse é o sonho da família”, diz Marlucia. Maria pensa da mesma forma. “Foi tão suado e sofrido chegar até aqui. Queremos que eles continuem.”
Com o negócio, elas conquistaram diversos sonhos: casa, carro e até gerar a própria energia com placa de energia solar.
E o futuro para a produção? As irmãs já estão “sonhando longe” e já pensam em exportar a goiaba que produzem. “Quando a gente fala isso, algumas pessoas riem. Chegamos até aqui, então, estamos estudando e nos preparando para isso”, afirma Marlucia.
“Nós, como mulheres e negras, sofremos muitos preconceitos, mas superamos. Podemos dizer que temos uma história de superação. Tudo que passamos, sobrevivemos e, com o apoio do Senar, hoje somos vitoriosas”, ressaltou Maria.
“Essa ideia de exportação veio também com o Senar. Está transformando nossa vida. Hoje o Senar faz parte da Doce Conquista e a Doce Conquista faz parte do Senar”, concluem.
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O técnico Erick Fernandes virou um “amigo da família, como um filho mais velho”, diz Maria. Para ele, dá orgulho ver a transformação e o crescimento das irmãs ao longo do tempo.
“É muito especial e gratificante ver as pessoas crescerem. Dá orgulho de ver a transferência de conhecimento e o crescimento delas me deixa orgulhoso. Sinto-me feliz e realizado”, diz. “Quero continuar acompanhando o desenvolvimento. A produção delas ainda pode ainda têm muito a crescer”, diz Erick.