– Salta aos olhos o fato de que a motivação não é a preocupação com a saúde ou o meio ambiente, e sim a economia – afirmou Estivallet em painel sobre os desafios regulatórios do País no exterior, em São Paulo.
No caso dos produtos geneticamente modificados, observou ele, derrubar as barreiras é ainda mais complicado porque as normas aplicadas ao produto importado são menos tolerantes que as adotadas no mercado doméstico.
– Ao longo da última década, foram rejeitadas diversas ajudas alimentares à África pela simples presença de um gene no contêiner – lembrou Estivallet.
De acordo com ele, são poucos os países africanos que atualmente possuem regulamentação para organismos transgênicos.
– É uma nova fronteira – considerou o diretor. Estivallet acredita que facilitar as exportações de transgênicos requer esforços nas áreas política e jurídica. Entre os mercados que dificultam o acesso de produtos geneticamente modificados, ele citou a União Europeia e a China.
– Eventos são aprovados, mas a previsibilidade é pequena. Acompanhamos diariamente a liberação da Intacta RR2 pela China nos últimos seis meses e o anúncio do ministério essa semana foi uma surpresa – contou. A Monsanto aguardava apenas o aval dos chineses para lançar comercialmente a variedade no Brasil.
Tendência de aumento do protecionismo
O conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), ex-secretário geral do Itamaraty e ex-embaixador em Paris, Marcos Castrioto de Azambuja, afirmou que a tendência é de aumento do protecionismo comercial pelos países.
– Não se iludam. Há economias em recessão e o mundo precisará de alimentos, portanto, a tendência é que o protecionismo aumente. Se houver falhas nas negociações na Rodada Doha, aí, então, teremos mais barreiras – declarou em participação no seminário Caminhos da Soja no Brasil, realizado em São Paulo.
Segundo Azambuja, os países vizinhos representam a região mais problemática para o Brasil, em termos de protecionismo.
– Vejo mais problemas na vizinhança imediata. O Brasil é muito grande para a América do Sul. E isso incomoda. O problema é que o Brasil não é hostil. O Brasil ama o diagnóstico, mas não faz a terapia. Se contenta com a contemplação do problema – salientou, em tom crítico à atuação do governo com relação a obstáculos comerciais.