De nada adianta ter a melhor semente, usar os melhores defensivos e fertilizantes sem antes saber a real condição da estrutura do solo, garante a Embrapa. Entre os principais problemas estão: a falta de nutrientes para a planta e a compactação. Estas duas características podem reduzir muito a produtividade. Ao contrário do que se pensa, fazer este diagnóstico é simples, não tem custos e pode ser feito pelo engenheiro agrônomo da fazenda ou pelo produtor.
Esta tarefa foi nomeada pela Embrapa como Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES) e tem como principal objetivo avaliar a capacidade física do solo.
Antes de separar os materiais que serão usados na tarefa, a Embrapa recomenda que o agricultor pegue suas anotações (caso haja) sobre a área, contendo talhões com problemas de produtividade, plantas que não crescem em conformidade etc. Claro que se o produtor não tiver isso, basta tentar recordar. Para os próximos anos, vale abrir uma caderneta de anotações, usar um aplicativo GPS para localizar exatamente o local já avaliado e os que estão com problemas e, assim fazer o acompanhamento nos próximos anos.
Os comentários a seguir foram realizados pelo pesquisador Julio Franchini, da Embrapa Soja. Lembrando que o material com os procedimentos completos para esta avaliação pode ser baixado gratuitamente no site da Embrapa através do link. Apresentamos aqui apenas um resumo deste trabalho.
I – Separação dos materiais necessários:
- Enxadão;
- Pá de corte (pá reta);
- Bandeja plástica 25 cm (largura) x 50 cm (comprimento) x 15 cm (altura);
- Canivete e/ou faca, para auxílio na manipulação das amostras;
- Régua de 30 cm para medição da espessura das camadas;
- Três separadores de camadas com dimensões do comprimento da bandeja, para isolar as camadas identificadas na amostra, quando houver;
- Prancheta, formulários (a exemplo do Anexo 1), lápis e borracha, para anotação dos resultados;
- Lupa pequena, para melhor identificar feições de degradação ou conservação (opcional);
- Máquina fotográfica (opcional);
- Receptor GPS para marcação dos locais de amostragem (opcional);
- Etiquetas adesivas e canetas para retroprojetor, para identificar as amostras antes da obtenção da fotografia (opcional).
II – Procedimentos para amostragem
Delimitação da área:
Antes da avaliação, deve-se identificar, no empreendimento rural, glebas ou talhões iguais, estabelecidas de acordo com os critérios a seguir:
- Histórico do manejo considerando, entre outros fatores: utilização ou não de preparo do solo (aração,gradagem, escarificação, subsolagem), sequência de culturas (soja, milho, feijão soja …), práticas vegetativas e mecânicas de conservação do solo, adubação e produtividade das culturas;
“Ter uma ideia do que aconteceu na lavoura já ajuda. Não é preciso ter nada documentado, seria melhor, mas tudo bem. Observar também áreas com integração lavoura-pecuária, ou que tivessem outra cultura não comum, como cana-de-açúcar, trafego de máquinas em solo úmido etc”
- Estádio de desenvolvimento da cultura (se houver);
“A melhor situação é com a cultura, porque na hora de retirar a amostra dará para ver como esta a raiz”
- Variabilidade na textura do solo;
“Neste caso, a avaliação é sobre o tipo do solo: argiloso, arenoso etc. Então se há variação na textura dentro da área delimitada é bom testá-las individualmente.”
- Em áreas com declividade perceptível (igual ou maior que 3%), dividir a encosta em terços: superior (topo), médio e inferior (baixada);
- Classe de solo (se for possível identificar).
“Isso é tarefa para o agrônomo, ele saberá se é latossolo, argisolos litosolos etc.”
III – Número de amostras
Mesmo dentro de regiões homogêneas, definidas conforme os critérios anteriores, a variabilidade espacial da estrutura do solo existe e deve ser considerada. Assim, é fundamental atentar para a representatividade da amostragem, avaliando-se um número mínimo de pontos capaz de representar tal variabilidade. Como referência, sugere-se um número mínimo de pontos por talhão homogêneo, definido conforme o tamanho:
Até 10 hectares: de 3 a 5 pontos;
De 11 a 50 hectares: de 6 a 10 pontos;
De 51 a 100 hectares: de 11 a 15 pontos de amostragem.
“Procurar retirar a amostra do solo em pontos distantes uns dos outros. A menos que seja uma divisa, para comparar uma prática a outra. Mas, o ideal é que a retirada das amostras de um mesmo talhão seja distante um dos outros.”
IV – Coleta da amostra de solo
A coleta de solo deve seguir os mesmos cuidados utilizados em uma amostragem de solo para avaliação de outros atributos (como a química de solo).
A coleta da amostra (bloco de solo) é uma operação crítica, pois é necessário manter o bloco de solo inteiro, preservando-se a estrutura o mais próximo da condição original do solo a campo. Inicia-se com a retirada cuidadosa da cobertura vegetal existente sobre o solo, cortando e retirando a vegetação viva e os demais resíduos vegetais da superfície. Evite arrancar as plantas, pois a retirada das raízes promove a desestruturação e desagregação do solo.
Em seguida, com o auxílio de enxadão e pá de corte reta, abre-se uma minitrincheira de 40 cm de comprimento, 30 centímetros de largura e 30 centímetros de profundidade, no sentido transversal às operações agrícolas. A remoção do solo deve ser realizada conforme indicação das setas azuis na figura abaixo, ou seja, perpendicular às linhas de cultivo. A superfície das duas paredes de maior comprimento e de interesse para a avaliação da minitrincheira devem permanecer intactas, sem espelhamento ou deformação pela ação do enxadão ou pá.
Após a abertura da minitrincheira, pode ser feito um reconhecimento das condições da parede na qual será retirada a amostra, observando-se a ocorrência de variações de cor e de resistência ao toque da pontada faca ou canivete, fatores que podem indicar mudanças bruscas no teor de matéria orgânica ou, no segundo caso, indícios de compactação do solo. Essa avaliação inicial também poderá auxiliar na identificação de camadas homogêneas que, posteriormente, serão separadas com a manipulação da amostra.
O bloco de solo deverá ser recortado com a pá extraído de uma das paredes (a que se manter intacta) de maior comprimento com uma pá de corte reta. O bloco deve ter espessura de 10 centímetros, largura mínima de 20 centímetros e profundidade de 25 cm.
Após o bloco ter sido recortado e a pá estar completamente enterrada na parte de trás, o produtor precisará inclinar delicadamente para frente (conforme a figura abaixo) ao se iniciar a retirada do bloco. Utilizando uma espátula ou faca, cortar os excedentes nas laterais e no comprimento para deixar o bloco com 25 de comprimento e 20 cm de largura. Não retirar blocos com espessura inferior a 10 cm, pois isso interfere diretamente no resultado do DRES, já que limita o tamanho dos agregados.
V – Preparo e manipulação da amostra de solo
O bloco deve ser cuidadosamente colocado em uma bandeja plástica com 25 cm de largura, e pelo menos 50 cm de comprimento e 15 cm de altura. A disposição da amostra na bandeja deve ser de tal forma que a sua profundidade (que por convenção é 25 cm) coincida com a largura da bandeja, para evitar que durante a manipulação da amostra, o solo se espalhe mais no sentido da profundidade e haja alteração na profundidade real da amostra, levando a erros.
Notar que, na disposição incorreta (Figura destacada abaixo), há um espaço entre a borda inferior da amostra e o limite da bandeja. A presença deste espaço fará com que, por ocasião da manipulação da amostra, ocorra alteração na espessura das camadas, modificando o resultado final do DRES.
Um dos aspectos mais importantes no processo da manipulação da amostra é a força a ser aplicada para o rompimento e a fragmentação do bloco de solo em torrões ou agregados de menor tamanho. A força deve ser aplicada com as mãos, em diferentes sentidos no bloco de solo, visando identificar pontos de menor coesão ou fissuras (superfícies de fraqueza natural), as quais têm orientações variadas e onde os torrões dessa amostra serão rompidos e fragmentados. Pelo menos duas estratégias básicas podem ser aplicadas em combinação:
- aplicar a força com apenas uma das mãos, ou seja, o agregado na palma e os dedos desta mão o manipulam, buscando as linhas de ruptura da estrutura, em uma aplicação crescente de pressão com os diferentes dedos. Isto limita a energia aplicada e faz com que o agregado rotacione na mão, buscando fissuras/linhas de ruptura com diferentes orientações;
- usando as duas mãos, procurar aplicar um torque nas estruturas em diferentes posições, em sentidos inversos com cada mão, como querendo torcer a amostra. Isto visa identificar as linhas de menor coesão. A tentativa de “abrir” os agregados, que é a ação intuitiva da maioria das pessoas, concentra a energia em determinados pontos, criando fissuras onde não havia.
Obs: Quando for necessária a aplicação de uma energia maior em determinado ponto para obter a fissuração, e isto resultar no rompimento apenas das bordas do agregado em manipulação, junto aos dedos, chegou-se então ao limite do processo fragmentação.
Obs 2: Em solos arenosos, menos coesos, a pressão de fragmentação é, em geral, menor do que a dos solos argilosos, pois as diferenças de coesão entre e dentro dos próprios agregados são menores, de difícil percepção e distinção. A menor coesão entre as partículas desses solos é pródiga para formação da terra fina ou partículas desagregadas, ao que o observador deve estar atento.
VI – Atribuição de notas de qualidade estrutural
O método DRES prevê pontuação para cada camada identificada na amostra. As notas atribuídas à qualidade estrutural de cada camada (Qec) detectada na amostra servirão de base para cálculo e definição da qualidade estrutural dessa amostra (IQEA) e da gleba como um todo (IQES).
As Qec serão atribuídas em função de dois critérios:
1) evidências de degradação ou conservação/recuperação do solo
2) proporção visual da ocorrência (em volume) dos diferentes tamanhos de agregados após a manipulação da amostra, segundo a chave atribuição das notas
Veja abaixo a tabela para calcula o resultado:
O material completo criado pela Embrapa pode ser baixado através do link.