Como exemplo comparativo, citou o plano do governo dos Estados Unidos para salvar os bancos em dificuldades, lançado em tempo recorde e que prevê o gasto de 20 vezes mais o que seria consumido em uma iniciativa para acabar com a carência alimentar.
Segundo o criador do programa Fome Zero, no mundo são produzidos hoje mais alimentos que o necessário.
? O problema é a dificuldade de acesso a eles, seja por causa das guerras e dos desastres naturais, ou porque sobem tanto de preço que muitas pessoas não podem comprá-los ? disse Graziano em entrevista à Agência Efe.
Desde 2006, ano em que explodiu a chamada crise dos alimentos, Graziano está à frente do escritório regional da FAO para a América Latina e o Caribe.
Em 1946, Josué de Castro, outro brasileiro a presidir a FAO, defendia no livro “Geografia da Fome” que era possível viver em um mundo sem miséria nem desnutrição, o mesmo desejo que inspira a “Iniciativa América Latina e Caribe Sem Fome”, impulsionada por este órgão da ONU.
? Este programa começou por causa de uma visita do presidente Lula à Guatemala em 2005, quando a FAO divulgou dados que davam conta de que a América Central estava retrocedendo no combate à desnutrição ? explicou Graziano.
A meta fixada pela FAO na região foi “dobrar a aposta” e não só reduzir à metade a fome, como estipulam os Objetivos do Milênio, mas erradicá-la completamente.
? Somos um continente que produz e exporta alimentos, e deveríamos dar exemplo. Já há cinco países na região (Argentina, Brasil, Equador, Guatemala e Venezuela) que têm leis que garantem o direito à alimentação de todos os seus cidadãos, leis que estabelecem programas para estimular o consumo e aumentar a produção ? ressaltou Graziano, que se mostrou moderadamente satisfeito com o que foi conseguido até agora.
O diretor regional enfatizou que “a fome é o primeiro motor de uma engrenagem que produz mais desigualdade e miséria”, pois “uma criança com fome pode ir à escola, mas não vai aprender”.