A Comissão de Ética da Presidência da República decidiu que a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) pode retomar a presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) sem cumprir a “quarentena” de 180 dias após ser exonerada do cargo de ministra da Agricultura, no dia 12 de maio de 2016. Entre as alegações, está o fato de ela ter sido licenciada da CNA justamente para assumir a função de ministra. A Comissão acompanhou o voto do relator, o conselheiro Mauro de Azevedo Menezes, que concluiu não haver conflito de interesses entre as duas funções.
Com a decisão, o clima de disputa volta à CNA. Quando Katia Abreu se licenciou, no início de 2015, o seu vice, João Martins, assumiu a presidência da entidade. E desde que a senadora se posicionou em defesa da presidente afastada Dilma Rousseff, o descontentamento entre os representantes do setor produtivo aumentou. Em algumas oportunidades, o presidente, João Martins, declarou que a senadora “traiu a classe” e que “não havia clima” para o retorno dela à presidência da CNA.
Das 27 federações de agricultura do país, apenas a Federação da Agricultura do Tocantins apoia a senadora. O presidente Paulo Carneiro diz que “o ambiente que criaram não reflete a realidade do país”, referindo-se às declarações de membros da diretoria da CNA e de presidentes de federações como a de Mato Grosso (Famato). Rui Prado disse, nesta quinta, dia 7, por telefone, que “não tem a mínima condição da senadora voltar, porque ela escolheu uma linha de trabalho diferente da linha que a CNA trabalha hoje”.
Mas o descontentamento da diretoria da CNA não é suficiente para evitar a volta de Kátia Abreu ao posto para o qual ela foi reeleita pela terceira vez até 2017. O estatuto da entidade não é claro sobre o assunto. Advogados ligados ao agronegócio consultados pelo Canal Rural explicam que a única maneira de barrar esse retorno é se o Conselho da CNA votar pelo afastamento da presidente licenciada, alegando que ela “agiu contra os interesses da classe”. Para isso acontecer, é preciso convocar uma assembleia extraordinária, o que não aconteceu até o momento.
O presidente da CNA, João Martins, não quis se manifestar sobre o assunto, assim como a senadora Kátia Abreu.