Na propriedade de José Aparecido Fernandes, em Mogi Mirim, no interior de São Paulo, a época é de colher laranja pera. A variedade de mesa é uma das mais vendidas. Nos 50 hectares, ele consegue em média 30 Kg por pé, produção que nesta época de entressafra abastece as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Esse ano, ele está recebendo R$ 19 pela caixa de 40 Kg, três a mais do que no ano passado. Mas ele só conseguiu esse preço, porque tem um produto superior ao de outros produtores da região.
– É onde a gente ganha um pouquinho a mais, porque tem pouca laranja. A época não é de colheita, está atravessando entressafra, então agora essa laranja que tem no pé vale um pouco mais – explica o produtor.
Por enquanto, os preços estão melhores, mas a quantidade que ele tem pra oferecer é pouca. A perspectiva é de que quando a safra chegar, em julho, os preços caiam. No ano passado, essa queda foi grande e ele vendeu a caixa por R$ 9, menos da metade do que ele vende agora em março. Se for mantido esse preço o produtor não vai conseguir cobrir os custos da lavoura.
– Um preço que não cobre os custos e isso já vem acontecendo há três ou quatro anos. Esse panorama do mercado já vem com o reflexo da indústria, que não tem preço para o produtor. Então, o mercado se acarreta junto e derruba o preço também, o produtor é derrubado das duas formas – lamenta Fernandes.
De acordo com analistas, essa grande oscilação vem acontecendo desde o início da década e a tendência é de que a partir de abril a queda no preço da laranja de mesa já atinja o produtor.
– O mercado de citrus ainda é muito instável no país e isso prejudica o produtor – diz a analista de Citrus do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Fernanda Geraldini.
Para evitar grandes oscilações de mercado, representantes do setor se reuniram no interior de São Paulo para discutir um estatuto para os citricultores brasileiros. O objetivo é evitar grandes variações nos preços no mercado nacional e internacional. O estatuto vai seguir os mesmos padrões do que já é feito na indústria da cana-de-açúcar, que leva em consideração os custos do produtor e da indústria no preço final. As regras do documento devem ser apresentadas na semana que vem.
– A gente prevê um futuro menos conturbado para o citricultor de São Paulo e do Brasil. Nós vamos esperar de outros componentes da cadeia, que esse debate sistemático seja feito sempre buscando oportunidade de melhoria para o citricultor, seja na questão de preço, seja na sustentabilidade para o agricultor. Então, eu considero a finalização desse documento um momento muito positivo para o citricultor de São Paulo e do Brasil – comemora o porta-voz da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), José Eduardo Lelis.