Lideranças projetam ano difícil para produção de grãos no país

Dirigentes dos setores agrícola e pecuário se reuniram na Fiesp para avaliar desempenho obtido em 2008 e traçar perspectivas para 2009Lideranças de diversos setores do agronegócio discutiram nesta segunda, dia 15, os impactos da crise financeira mundial na cadeia produtiva. O encontro foi na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em São Paulo. Foi a última reunião do conselho de agronegócio da organização neste ano.

Representantes dos setores de carnes, sucroalcooleiro, grãos, café e leite apresentaram o desempenho de 2008 e projetaram os desafios de 2009. No caso da carne bovina, produto com o qual o Brasil é líder em exportações, houve em novembro uma queda histórica de 22% no valor das vendas externas. Por outro lado, o cadastramento de novas fazendas aptas a enviar produto à União Européia traz certo ânimo aos pecuaristas.

? Temos vento a favor e contra. Creio que vamos mais ou menos empatar no ano que vem em relação a 2008, o que não é um mau resultado. Enquanto a maioria dos setores está caindo, acredito que na carne conseguimos rentabilidade de preço, volume e valor exportado ? diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Roberto Gianetti da Fonseca.

O mercado sucroalcooleiro não pode dizer o mesmo. A falta de crédito provocou a revisão de diversos projetos que iniciariam em 2009. No encontro o presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única), Marcos Jank, disse que, apesar de os fundamentos do mercado de etanol permanecerem fortes, a tendência num futuro próximo é de que as empresas comecem a se unir para superar a crise.

? Os números básicos são bons, o problema é que existe uma grande heterogeneidade de empresas. Algumas irão crescer porque não estão tão endividadas e têm gestão em ordem. Outras vão ter dificuldade e devem ser incorporadas nesse processo.

Para o presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), Roberto Rodrigues, os efeitos da crise financeira no agronegócio brasileiro podem ser resumidos em três pontos principais: falta de crédito, necessidade de melhores políticas agrícolas e infra-estrutura e logística. O ex-ministro da Agricultura também acredita que o setor de grãos é o que merece uma atenção especial neste momento.

? Está claro que a produção de grãos será menor. O que não está claro é se essa produção será mais barata. Se os preços caírem mais será uma tragédia para a agricultura em 2009 e para o país em 2010. Se os preços não caírem mais, aqueles produtores que conseguirem ter acesso ao crédito barato e produtividade adequada ainda vão sair bem.

O presidente da Organização das Cooperativas de São Paulo (Ocesp), que também participou da reunião, disse que o cenário está muito desfavorável para os produtores de grãos, com preços, demanda e crédito menores.

? Esses agricultores estão endividados. Se nada for feito, junto com a crise e a escassez de rentabilidade, essas pessoas com certeza vão perder suas propriedades para um banco ou um credor qualquer ? concluiu Edivaldo Del Grande.