? Pra mim mudou tudo. A gente ter um lugar pra ficar, pra que a gente possa estar saindo do serviço, né. Ter um lugar que a gente pode estar tomando um banho, estar colocando a cabeça da gente sem preocupação.
Eduardo de Oliveira, ainda morador de rua, separa a fibra do bagaço da cana. Um processo anterior ao feito por Cida na fabricação de luminárias. Ele também é morador de rua, e se diz privilegiado por fazer este trabalho.
? Espero me profissionalizar. Me juntar a colegas de trabalho e fazer a minha própria oficina. Seguir o exemplo desta aqui. Criar minha própria oficina.
Entre os que trabalham na fabricação de luminárias, uns são moradores de rua como Oliveira, ou foram, como a Cida. São 21 pessoas que fazem parte de um projeto social em São Paulo, coordenado pela Pastoral do Povo, que é ligada à Igreja Católica. Na oficina, eles têm trabalho, renda e dignidade, usando como matéria-prima um produto que vem do campo, dos canaviais, e que na cidade viraria lixo: o bagaço da cana-de-açúcar.
Os trabalhadores fazem até 400 luminárias por mês. Retiram o bagaço nas feiras e lanchonetes da cidade, que vendem caldo de cana. Para o aproveitamento, cozinham o bagaço, lavam e completam a moldura das telas de arame. As peças podem ainda ganhar cor. Prontas são úteis e belas, pra dizer pouco.
? A gente vê as pessoas se envolvendo, melhorando sua situação. Da rua vai pro albergue, do albergue vai para uma moradia. São passos que a pessoa dá, onde ela amplia a responsabilidade de retomar o próprio dia-a-dia ? conta a coordenadora do projeto, Hedwig Knist.
Hedwig veio da Alemanha como missionária, há 18 anos. Pretendia ficar só um ano no Brasil, mas o envolvimento com trabalho social, com moradores de rua, fez ela mudar os planos. Para sorte de Cidas, Eduardos e centenas deles que já passaram pela oficina.
? Eu sem trabalho não sou nada ? define Cida.
? Lá no campo eu acho que a maioria não faz nem idéia do que é feito aqui ? lamenta Hedwig Knist.