Com uma safra 16% menor do que a média do Estado, o Paraná esperava ter preço melhor para o produto. Porém, mesmo com o mínimo em R$ 31, o mercado não paga mais do que R$ 24 a saca. Os compradores argumentam que a qualidade caiu por conta do excesso de chuvas na colheita, mas os produtores dizem que ainda tem muito trigo bom sem preço. Segundo a Conab, dos 2,5 milhões de toneladas colhidas, 491 mil estão no seu estoque. Cerca de 1,5 milhão de toneladas foram escoadas através dos leilões de PEP e 500 mil toneladas ainda estão sem previsão de venda. Ou seja, praticamente não se vendeu trigo no Estado.
Para a Federação da Agricultura do Paraná (Faep), o encalhe é absurdo, já que o Brasil produz só a metade do trigo que consome. A entidade aponta a alta carga tributária e a logística de navios precária para transportar o produto para o Norte e Nordeste, grandes consumidores, como problemas que explicam a comercialização quase zero do trigo do Paraná.
O setor afirma que a falta de uma política definida é o grande entrave, inclusive em outras regiões produtoras. Nem mesmo os dois últimos leilões de PEP, solicitados pelos produtores paranaenses, foram confirmados pela Conab.
O presidente da Cooperativa de Rolândia (Corol), Eliseu de Paula, apresenta relatório da Ocepar, que reúne cooperativas do Paraná, onde aparece pendente uma dívida de R$ 298 milhões da Conab junto aos produtores paranaenses, entre AGF e PEP. Só a Corol tem 4,5 milhões em AGF para repassar aos produtores e não sabe quando o dinheiro chega.
? A política de AGF, de garantia, deveria ser automática no país. O produtor procurou, encontrou no governo o apoio na política agrícola. Aí você teria reflexos positivos. Porém, o produtor precisa hoje liquidar suas contar e não tem a quem recorrer. Aí, ele vende seu produto a preço vil, preço baixo, muito abaixo do custo. Então, nós estamos com uma política totalmente distorcida ? disse o dirigente da cooperativa.
O presidente do Sindicato Rural de Londrina, filiado à Faep, Narciso Pissinatti, diz que não sabe se o governo federal quer que o país ainda plante trigo. A próxima safra do Paraná deve passar de três milhões de toneladas, uma recuperação histórica. Porém, a perspectiva é de piora nos preços.
? É preciso proteger o nosso produtor. É o que eu sempre comento: será que nós não queremos mais plantar trigo? Do jeito que está essa política, nós inviabilizamos a safra de inverno, que é a principal que nós temos, então tem que ter uma decisão nesse sentido. Eu acho que esse PEP é a saída porque a gente vê que os moinhos não têm interesse, inclusive devem ter um estoque muito bom porque eles tiveram esse benefício de importação do produto, então a gente está com um mico na mão, realmente ? avaliou Pissinatti.