Todos os anos, o agricultor Ari Becker, 53 anos, de Ibirubá, no norte do Rio Grande do Sul, destina 70 hectares de sua propriedade para o cultivo da cevada. Para ele, a cultura é uma alternativa ao plantio do trigo, mas nem sempre foi rentável. Agora, com a expectativa da construção de uma maltaria (indústria que transforma a cevada em malte, principal ingrediente da cerveja) a pouco mais de 90 quilômetros de sua lavoura, vê o cultivo com outros olhos e já pensa na possibilidade de aumento de área.
? Vamos esperar o que a indústria vai nos oferecer. De repente, até pode ter uma valorização ? disse Becker.
A cevada tem uma vantagem em relação a outras culturas de inverno. Toda a produção é previamente negociada com a indústria. A intermediação é feita pelas cooperativas locais. Becker, por exemplo, entrega a safra para a Cooperativa Agrícola Mista General Osório (Cotribá), de Ibirubá, a qual está associado. A cooperativa, com 4,6 mil associados, tem 200 produtores envolvidos no cultivo da cevada. A área plantada pelos colaboradores da Cotribá é de 7 mil hectares.
? O produtor certamente será atraído para a cultura pelo fomento que a empresa trará ? acredita Fernando Müller, agrônomo da cooperativa.
Se na lavoura o anúncio já gera planos, na logística de produção a euforia é ainda maior. Marcelo Boff, 37 anos, é o gerente da maior unidade armazenadora de cevada do país. A filial da Pradozem, em Passo Fundo, tem condições de guardar 300 mil toneladas do grão. É em seus graneleiros que a Ambev deposita a safra colhida na região e que depois é enviada para a maltaria de Porto Alegre. Nos últimos anos, a unidade tem movimentado em média 100 mil toneladas do produto por ano. Mas as previsões são otimistas. A demanda da nova unidade da Ambev será muito maior e mobilizará o terminal de grãos.
? A gente tem uma logística especial para a cevada. Os silos, por exemplo, possuem um revestimento de alumínio para manter o grão refrigerado ? explica Boff.
O pesquisador Euclydes Minella, da Embrapa Trigo de Passo Fundo, é um dos mais otimistas com a novidade, em especial por causa do investimento orçado em R$ 213 milhões pela Ambev.
? Os agricultores vão ter que plantar, no mínimo, mais 50 mil hectares de cevada para atender a demanda ? diz Minella, que deve concluir ainda este ano a pesquisa de dois novos cultivares de cevada específicos para o mercado da Região Sul.
No ano passado, foram cultivados 50 mil hectares de cevada no Rio Grande do Sul – a metade do total plantado no país. Este ano, a expectativa é de que a área fique em torno dos 70 mil hectares. O maior pólo produtor de cevada do país está localizado em uma área localizada em um raio de 150 quilômetros no entorno de Passo Fundo – se estendendo de Ibirubá a Vacaria. Na última safra, o produtor recebeu em média R$ 28 pela saca do produto. A indústria cervejeira do país importa 40% da cevada usada na produção do malte. A previsão é de que, com a nova maltaria gaúcha, este índice diminua.