Manejo correto é essencial para controlar pragas, afirmam especialistas

Produtores paranaenses recebem orientação para lidar com infestaçõesO aparecimento de uma nova lagarta nas lavouras brasileiras na última safra reabriu a discussão sobre o uso correto de defensivos e a melhor forma de controle das pragas. Na terceira matéria da série sobre pragas nas lavouras de grãos realizada pelo Canal Rural, saiba quais os resultados de um manejo correto e qual a orientação dos especialistas antes de começar o controle.

Adeney de Freitas Bueno é um pesquisador que não se cansa de estudar as lagartas. Ele trabalha na unidade Soja de Londrina da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), onde dedica sua atenção ao controle de pragas. Entre as técnicas empregadas por Adeney na sua lida, está aquela conhecida por pano de batida, onde um tecido branco é estendido entre as fileiras das plantas, e as folhas são sacudidas até que os insetos caiam. Após a contagem, pode-se ter ideia da infestação. Segundo ele, o controle deve ser feito quando forem encontradas, em média, 40 lagartas grandes no pano ou se a desfolha atingir 30% antes do florescimento e 15% quando aparecerem as primeiras flores.   

– Ao amostrar, o produtor sabe a espécie que ele tem na lavoura e a quantidade. Sabendo a espécie, o produtor é capaz de escolher o produto certo para aplicar na dose e no momento corretos – afirma Adeney.

Depois de uma safra de soja com perdas de Norte a Sul do Brasil neste último ano por causa da incidência de uma nova lagarta, as orientações de especialistas como Adeney merecem atenção. Segundo a Embrapa, a ocorrência de lagartas do gênero Helicoverpa foi observada a partir de fevereiro do ano passado na região do Cerrado, em níveis populacionais nunca registrados antes e com prejuízos econômicos para as culturas de milho, algodão, soja, feijão, milheto e sorgo.

Existem registros também em plantações de tomate, pimentão, café e citros. Os especialistas alertam que a helicoverpa é só mais uma das tanta pragas que a pesquisa estuda pra combater, ou minimizar os danos. E não é a pior delas.

– Existem pragas que são até mais preocupantes. No caso da soja, o complexo de percevejos que ataca as vagens são insetos difíceis de controlar, com poucas opções de inseticidas no mercado. E existem outros insetos, de mais difícil controle até do que a helicoverpa – afirma o especialista.

Segundo o especialista, a helicoverpa exige cautela do produtor, que não pode combatê-la da mesma maneira que as outras lagartas conhecidas.

– A dose recomendada pode variar de espécie pra espécie e muitas vezes o produto também tem que ser diferente. Quando você usa inseticida exageradamente ele tem efeitos colaterais que muitas vezes pode ser o aumento de pragas, ao invés de redução – adverte Adeney.

Toda semana Alcides Bodnar, agrônomo da Emater em Londrina vai até a propriedade do produtor rural Roberto Schulz. Foi numa destas visitas que ele apresentou uma alternativa ao agricultor: a técnica do Manejo Integrado de Pragas, ou MIP.

– Fizemos várias vistorias semanalmente nas lavouras de soja e aí verificávamos o nível de infestação de lagartas, de percevejo e fomos segurando. Não deu o nível de infestação, não aplicamos praticamente nada – comenta o agrônomo.

A Emater do Paraná fez um levantamento no Estado e comprovou a eficiência do Manejo Integrado de Pragas. Nas propriedades onde foi feito este manejo, a aplicação de defensivos reduziu pela metade. No Paraná, a média é de cinco aplicações numa safra. Na propriedade de Roberto, a produtividade foi 186 sacas, com custo de produção em torno de 45 sacas, uma rentabilidade excelente para a região.

– Eu economizei três passadas pra lagarta, mais duas pra percevejo. Eu ganhei mais ou menos por passada 600 contos destes sete alqueires – comentou o produtor rural.

Nelson Harger, também agrônomo da Emater do Paraná, afirma que a incidência da helicoverpa não afetou a produção de soja na última safra, nem preocupou tanto quanto na Bahia. É que o manejo integrado já deixou o pessoal daqui mais preparado, caso ela apareça pra valer.

– À medida em que acompanhamos a presença e a evolução desta praga, conseguimos definir estratégias para combater esta praga em conjunto com a pesquisa – afirma Nelson.

>> Veja todas as reportagens da série

Helicoverpa já causou prejuízo de R$ 1,7 bilhão na Bahia (01/7)

Lagarta atacou lavouras de Mato Grosso do Sul na safra passada (02/7)

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