Manejo do solo com pó de rocha ganha mais adeptos entre sojicultores

Insumo de rocha foi tema da palestra de pesquisador da Embrapa na Abertura Nacional da Colheita da Soja, que aconteceu nesta sexta, em Canarana (MT) 

Daniel Popov, de São Paulo
Boa parte dos nutrientes usados pelos produtores brasileiros para corrigir a falta de fertilidade de seus solos são importados e cotados em dólar, o que pode encarecer muito os custos da safra. Segundo estimativa do geólogo e pesquisador da Embrapa, Éder Martins, apresentada durante sua palestra na Abertura Nacional da Colheita da Soja, safra 2017/2018, que aconteceu neste sexta (19) em Canarana (MT), esse volume supera a casa dos 70%. Uma alternativa para diminuir esta dependência e ampliar a durabilidade da fertilidade na terra é uma técnica conhecida como rochagem.

O Brasil possui solos muito pobres de nutrientes, por serem bastante explorados pela agricultura e também porque, em geral, são muito lixiviados. Para compensar este gargalo os produtores gastam bastante dinheiro anualmente com fertilizantes e isso impacta diretamente na margem de lucro do produtor. É ai que entram os remineralizadores, ou como são popularmente conhecidos, o pó de rocha, que se trata de uma rocha moída e peneirada que tem a função de melhorar a qualidade física e química do solo. “A rochagem não vem para substituir os fertilizantes, mas para complementar, reduzindo os custos”, garante Martins.

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O pesquisador explica que os remineralizadores não podem ser substitutos dos fertilizantes químicos, o conhecido NPK (Nitrogênio, Fósforo, Potássio) por não possuírem todos estes nutrientes em sua composição. “As rochas têm um teor de nutrientes baixo, um exemplo é o potássio que na média possui apenas 10% de óxido de potássio, ou seja, precisamos de mais pó para compensar isso”, frisa ele. “A vantagem é que esse pó fica na terra e não é levado junto com a água de chuva, como os fertilizantes químicos.”

O principal benefício desta matéria-prima seria a sua abundância em território nacional, já que rochas com propriedades para fertilizar existem em praticamente todas as regiões, com indústrias suficientes para fazer esta transformação.

O próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) reconheceu os benefícios desta técnica e normatizou em março do ano passado ano a produção, o registro e comércio dos remineralizadores. “Para poder comercializar o pó de rocha, as empresas precisam se adequar as exigências técnicas do Mapa, com testes que garantem a eficiência agronômica do produto”, conta Martins.

Martins explica que a própria Embrapa já possui um estudo a respeito há pelo menos 16 anos, com testes de recomendação de uso desse insumo, e algumas empresas parceiras deste estudo já devem lançar seus produtos no mercado brasileiro até o final deste ano. “Toda a vez que a Embrapa se envolve em uma pesquisa como essa, precisamos chegar ao final com o resultado e uma recomendação de uso”, conta o pesquisador. “ Temos que dizer qual a dosagem do produto, a forma de aplicação com auxilio de outras fontes de nutrientes, qual o manejo do insumo para determinada cultura e como o produto responde.”

No levantamento da instituição, a comercialização do pó de rocha compensa desde que a fonte dos recursos não esteja há mais de 300 quilômetros de distancia da propriedade rural. “A quantidade de pó de rocha usada nas lavouras é bem maior que a quantidade de fertilizantes químicos, então para compensar financeiramente avaliamos a distancia do polo de distribuição até a fazenda, levando em consideração o calculo do frete e o custo da mina”, afirma Martins.

Ele destaca ainda que reconstruir o solo é algo novo no Brasil, já que o pó de rocha fica na terra e se transforma no solo no futuro. “O potencial é grande, mas ainda estamos no começo da pesquisa para a compreensão do que acontecerá no longo prazo”, conta ele. “Com a rochagem o produtor vai economizar cada vez mais com o uso excessivo de fertilizantes químicos e o solo ficará ainda mais eficiente.”

O próprio Mapa ressaltou que uma das maiores vantagens do pó de rocha é a disponibilidade em abundância e o baixo custo. Uma tonelada de fertilizante mineral tem custo médio de R$ 1,5 mil, enquanto a mesma quantidade de remineralizador custa R$ 200 a 300, levando-se em conta despesas com taxa de aplicação e frete. “É claro que se usa bem mais pós de rocha do que os tradicionais, mas a vantagem é que não é preciso aplicar o pó de rocha todo o ano”, garante o pesquisador da Embrapa.

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