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Agricultura

Manejo do solo reduz riscos de quebra de safras com veranicos no Sul

Para reter a água onde ela cai (da chuva ou da irrigação), a Embrapa promoveu uma grande agenda de transferência de tecnologias

Foto: Embrapa

Em grande parte das lavouras produtoras de grãos no Brasil, o Sistema Plantio Direto (SPD) não está mais sendo manejado conforme as indicações técnicas que o viabilizou. A diversificação de culturas deixou de ser adotada, os terraços foram retirados das lavouras e a semeadura em contorno foi abandonada sob a errônea percepção de facilitar o trânsito de máquinas e implementos. O descaso com a compactação do solo e com o manejo da enxurrada têm resultado em prejuízos econômicos, com quebra de safras por veranicos e prejuízos ambientais, em razão de perdas de material orgânico, corretivos agrícolas, fertilizantes e nutrientes provocadas pela erosão.

Para reter a água onde ela cai (da chuva ou da irrigação), a Embrapa promoveu uma grande agenda de transferência de tecnologias envolvendo quatro práticas concomitantes: o terraceamento e a semeadura em contorno, para controlar a erosão; e a descompactação do solo e a diversificação de culturas, para elevar a taxa de infiltração de água no solo. Essa agenda é um dos destaques do Balanço Social 2018, estudo divulgado anualmente pela Empresa que aponta o seu retorno social para a sociedade e também revela que para cada real aplicado na Embrapa no ano passado foram devolvidos R$ 12,16 para a sociedade. A novidade será anunciada no próximo dia 24, na solenidade dos 46 anos da estatal agropecuária, que registrou também um lucro social de R$ 43,52 bilhões em 2018. Esse valor foi obtido a partir da análise do impacto econômico de 165 soluções tecnológicas e de cerca de 220 cultivares desenvolvidas pela Empresa.

A agenda de transferência de tecnologias capacitou 744 assistentes técnicos ligados a instituições públicas e privadas, 900 agricultores líderes, estudantes e professores em ciências agrárias e mais de 55 mil agricultores e profissionais do agronegócio. Foram implantadas unidades de referência tecnológica em mais de 100 municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Os resultados são expressivos: a produtividade da soja sob forte estresse hídrico foi de 3.458 kg/ha, três vezes maior que a média da região. Também o rendimento do trigo sob forte estresse hídrico foi entre 36% e 45% maior e a taxa de infiltração de água no solo foi de 92 mm/h na área em que foram combinadas práticas mecânicas e de diversificação de culturas, enquanto em área sem estas práticas, a taxa de infiltração foi de 13 mm/h. O objetivo agora é implementar uma política pública de manejo e conservação do solo e da água nos estados do Sul.

Segurar a água onde ela cai

A água que infiltra no solo nutre as plantas e abastece as nascentes. Água que escoa sobre o solo não nutre as plantas e nem abastece o lençol freático e as nascentes. Leva o próprio solo, a matéria orgânica, os corretivos, os adubos e outros insumos para os rios e lagos e polui o ambiente. O terraceamento e o plantio em contorno são as mais importantes práticas mecânicas para o controle da erosão hídrica, ao deterem a água onde ela cai. O terraço fraciona o volume e reduz a velocidade da enxurrada e o seu potencial de destruição.

Por outro lado, a diversificação de culturas é um imperativo técnico do SPD cujo êxito depende da elevada produção anual de palha e raiz. A produção de 8 a 12 t/ha de palha e raiz é obtida com o cultivo anual de duas ou mais culturas em rotação, consorciação e/ou sucessão. Finalmente, a descompactação do solo favorece a taxa de infiltração e o armazenamento de água no solo.

 

A pesquisa partiu de duas estratégias: a primeira, em uma lavoura de 149 hectares, manejada como unidade de referência tecnológica, da empresa Sementes Falcão, situada no município de Sarandi, RS. Em 1997, a área recebeu a implantação de terraços base larga em nível. Em 2014 foi avaliada a produtividade da soja depois da ocorrência de 30 dias sem chuva, seguida de uma precipitação de 7 mm, sequenciada por 45 dias sem chuva e por duas semanas com picos de temperatura superior a 40°C, antecedendo a colheita.      

A segunda estratégia, em áreas da Embrapa Trigo, ocorreu em 2014 e consistiu em avaliar o efeito da rotação de culturas na produtividade do trigo em experimento de longa duração e avaliar a taxa de infiltração da água no solo que recebeu práticas mecânicas e uso da diversificação de culturas a partir de 2011.

As duas estratégias geraram evidências técnicas genuínas, gerando um formato para transferência de tecnologia em dias de campo, visitas técnicas, seminários, encontros técnicos, cursos, conferências e fóruns, contribuindo para o desenho de políticas públicas para o manejo do solo e da água no Brasil, a partir de uma ação nacional da Embrapa.

Para a primeira estratégia, na lavoura, após nove anos o terraceamento se mantinha intacto. Toda água das chuvas ocorridas nesse período se infiltrou no solo da lavoura. O solo não apresentou erosão hídrica. Todos os indicadores de fertilidade estavam acima do nível satisfatório.

A produtividade da soja sob forte estresse hídrico foi de 3.458 kg por hectare, três vezes maior que a média da região. Para a segunda estratégia, o rendimento do trigo foi entre 36% e 45% maior pelo efeito da rotação de culturas. A taxa de infiltração de água no solo foi de 92 mm/h na área em que foram combinadas práticas mecânicas e de diversificação de cultura enquanto em área sem as práticas, a taxa de infiltração foi de 13 mm/h.

Esses resultados ancoraram ações de transferência de tecnologia de grande alcance e sucesso:  capacitação de 744 assistentes técnicos públicos, além de 900 agricultores líderes, técnicos em ciências agrárias, estudantes e professores; a difusão do tema atingiu presencialmente mais de 55.000  agricultores, técnicos, estudantes e profissionais do agronegócio em dias de campo, palestras e estações temáticas e; a implantação de unidades de referência tecnológica em mais de 100 municípios do RS, SC e PR.

As ações alcançaram destaque nacional, contribuindo para a implementação de uma política pública de manejo e conservação do solo e da água no Estado do Rio Grande do Sul. Em 2018, foi intensificada essa agenda em Santa Catarina e no Paraná e avançam as articulações para o estabelecimento de políticas públicas similares as do Rio Grande do Sul.

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