Sob sol forte, o protesto reuniu indígenas, agricultores, representantes dos Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Além de defender a demarcação da Terra Indígena, o grupo aproveitou o bloqueio para pedir a posse de uma fazenda na beira da rodovia, ocupada há oito dias por cerca de 200 famílias.
? Os trabalhadores sem terra e os sem teto passam pela mesma situação que a gente, assim como eles sentem na pele o sofrimento de não ter sua casa, não ter sua terra, nós também estamos sofrendo para ficar na nossa terra ? comparou a coordenadora do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Marizete de Souza.
Em cima de um carro de som, uma indígena entoava o canto do paricuari, pássaro da região, e dividia o microfone com o franciscano Frei Messias, organizador da manifestação. Segundo a coordenadora, o tema central é o direito à terra, o que justifica a reunião de vários movimentos sociais.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a manifestação foi pacífica e apenas uma pessoa foi detida após furar o bloqueio e invadir a pista onde estavam os manifestantes. De acordo com Marizete, nesta quarta um grupo de indígenas se reunirá no centro de Boa Vista para acompanhar o julgamento do STF.
? Estamos todos confiantes na decisão do Supremo, que eles [ministros] respeitem os nossos direitos, que estão amparados na Constituição Federal.
A líder indígena negou que os índios favoráveis à manutenção da demarcação contínua estejam preparando alguma resistência violenta caso o STF decida pelo contrário, mas não descartou a possibilidade de conflito com os produtores de arroz.
? Para nós o clima está pacifico, mas ninguém sabe o que eles [agricultores] estão programando, o que eles estão preparando.
Conflito após decisão do STF
Índios do distrito de Surumu, dentro da reserva, mostram-se preocupados com a possibilidade de conflito com produtores de arroz e outros agricultores brancos que vivem na área, após a decisão do tribunal.
? Tem muita gente estranha por lá esses dias, que fica rondando a aldeia, às vezes de moto, outras de carro. A gente sabe que são jagunços ? disse o cacique Severino, da etnia macuxi.
A Polícia Federal confirmou a convocação de contingente para reforçar o monitoramento da região nos próximos dias. Nesta segunda, um grupo de 50 agentes chegou a Boa Vista e será deslocado para a terra indígena, a cerca de 200 km da capital, para garantir reforço durante o julgamento e conter possíveis conflitos entre indígenas e produtores de arroz após a decisão do STF. Homens da Força Nacional de Segurança também estão na região desde abril.