Após a confusão, um grupo de camponeses conseguiu entregar uma carta com reivindicações no Planalto, endereçada ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, responsável pela articulação do governo com os movimentos sociais.
Quatro carros e um ônibus da Tropa de Choque da PM reforçaram a segurança nos acessos ao Palácio do Planalto. Os manifestantes se deslocaram para a área em frente ao Congresso Nacional. Foram colocadas cruzes brancas no gramado simbolizando as mortes decorrentes dos conflitos no campo. Na marcha, os camponeses pedem agilidade na reforma agrária e melhores condições de trabalho.
– Queremos colocar para os Três Poderes que eles precisam compreender a importância da reforma agrária para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Este tema tem que estar na centralidade da pauta – disse William Clementino, secretário de política agrária da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
A PM estima que 1,5 mil a três mil pessoas participaram do protesto. A estimativa da organização do evento é 10 mil. Devido ao protesto, o trânsito ficou congestionado nas proximidades do Planalto e do Congresso Nacional nas primeiras horas da manhã.
Desde a segunda, dia 20, os trabalhadores estão reunidos no Parque da Cidade. Participam do evento representantes de povos indígenas, comunidades tradicionais, assentados da reforma agrária, agricultores familiares extrativistas, povos da floresta, pescadores artesanais, quilombolas e ainda trabalhadores assalariados.
Para os líderes do movimento, os focos da manifestação se baseiam no debate sobre a unidade nos movimentos agrários em torno da agenda comum na luta pela terra, a busca por alternativas contra as ameaças de destruição social, cultural e física dos camponeses e a celebração do cinquentenário do 1º Congresso Camponês, de caráter nacional, ocorrido em Belo Horizonte (Minas Gerais), em 1961.
Segundo a integrante da Via Campesina, Rosângela Piovizani, o objetivo da unificação dos movimentos dos agricultores é alertar o governo e a sociedade que o campo está passando por dificuldades muito sérias.
– O campo possui uma responsabilidade fundamental na produção de alimentos saudáveis para o Brasil e nós precisamos de reforma agrária concreta e urgente – enfatizou.
Um grupo de mulheres foi recebido pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que prometeu levar as reivindicações à presidente Dilma Rousseff.
– Esperamos que o governo tenha sensibilidade de abrir um processo de negociação e comece de fato debater todas as questões relacionadas ao desenvolvimento no mundo rural – declarou a representante da Fetraf, Elisângela Araújo.
Os representantes dos movimentos sociais criticam ainda o atual modelo do agronegócio. Procurada, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil não quis se manifestar sobre o assunto. O Ministério do Desenvolvimento Agrário esclarece que o governo federal está empenhado em qualificar os assentamentos de reforma agrária e informa que na terça, dia 20, a presidente Dilma assinou um decreto declarando 21 áreas de interesse social para implantação de projetos de reforma agrária. Somente no ano passado foram 60 áreas.