A medida contra a prática de dumping, venda de produtos por preços abaixo dos de mercado, deve contribuir para recuperação de vagas cortadas no setor, estima o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Ao projetar que o número de pares que deixará de ser importado voltará a ser fabricado no Brasil, calcula ser possível a recontratação no país de 48 mil trabalhadores demitidos no último trimestre de 2008.
Dos 39,321 milhões de pares importados pelo Brasil no ano passado, 33,572 milhões vieram da China.
? Acredito que até 90% das importações da China ficarão inviáveis.
A análise é baseada no preço médio de US$ 7,03 do calçado chinês. Como já existe imposto de importação de 35%, o valor final ficaria em US$ 21,96, três vezes o original. A medida é válida para calçados sintéticos, de couro, de têxteis e exóticos.
Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e consultor com trabalhos desenvolvidos no setor calçadista, Hélio Henkin avalia que a barreira protege os fabricantes nacionais e os empregos.
? Essa é uma sinalização positiva para que as empresas continuem investindo e saibam que não vão enfrentar concorrência desleal sem amparo governamental ? afirma.
Após os seis meses de validade da alíquota de US$ 12,47, o governo se pronunciará e fixará nova tarifa por cinco anos. A Abicalçados defende US$ 18,44. O processo teve início em outubro de 2008, quando a Abicalçados protocolou no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior um pedido de abertura de investigação de dumping.
As importações ano passado representaram apenas 5,8% do consumo aparente no Brasil, calculado em 667 milhões de pares. Para Abicalçados, no entanto, desse total, 400 milhões são das chamadas sandálias praianas, sem similares asiáticos. Assim, a concorrência se estabelece com os outros 267 milhões de pares de outros tipos de calçados, o que concentra a competição nas demais linhas.
As importações de calçados já vinham resvalando. De janeiro a julho, somaram 21,173 milhões de pares, 11,6% a menos em comparação com o mesmo período de 2008. Uma das razões seria a cautela de importadores diante da barreira que estava por ser anunciada.