Mercado brasileiro de algodão deve apresentar preços altos até chegada da nova safra

Projeções do USDA para a safra 2013/2014 indicam que os estoques mundiais do produto devem atingir o maior volume histórico: 21 milhões de toneladasNo primeiro semestre de 2014, o mercado brasileiro de algodão deve apresentar um cenário mais altista para preços internos até que a nova safra chegue ao mercado, aponta o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

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Entre os fatores que podem impactar o mercado estão os registros de negócios da safra 2012/2013 na Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), que apontam que cerca de 830 mil toneladas de algodão já estão comprometidas.

Segundo o Cepea, vale considerar que, nesta temporada, uma boa parte dos negócios ocorreu quando houve necessidade imediata, com agentes optando por não registrar seus contratos. Essa ação é contrária aos objetivos do Sistema de Informações de Negócios com Algodão em Pluma (Sinap) entre a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e a BBM e dificulta as análises de mercado. Mesmo assim, como muitos agentes citam que entre 60% e 70% da produção nacional efetivamente é registrada, isso indicaria que cerca de 1,2 milhão toneladas foram negociadas.

Tendo como base que quase toda a safra foi registrada, o excedente a ser ainda negociado ficaria na casa de 470 mil toneladas. Assim, considerando-se que, entre os negócios registrados na BBM, o mercado interno é responsável por 440 mil toneladas e que a estimativa é de demanda na casa de 900 mil toneladas por ano, haveria necessidade de aquisição de igual volume para atender o consumo. Portanto, o excedente e a necessidade de compra são equivalentes.

Assim, o primeiro semestre de 2014 poderá operar com preços ainda próximos da paridade de importação (o quanto custa o produto importado posto indústria), como observado em quase todo o ano de 2013. O que poderá mudar esse cenário serão os preços internacionais ou a taxa de câmbio que, se forem menores, podem reduzir as paridades de importação e de exportação (o quanto o vendedor recebe ao exportar) e tendem a pressionar o mercado interno.
Até julho de 2014, os contratos da ICE Futures (Bolsa de Nova York) apontam cotações na casa de 82 centavos de dólar por libra-peso. Porém, ações mais efetivas do governo chinês quanto à disponibilização de seus estoques podem mudar este cenário.

Considerando-se que o Brasil deve aumentar a oferta em 2013/2014 para 1,56 milhão toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), haverá mais excedente interno a partir do segundo semestre de 2014. Isso, por si só, pode pressionar os valores internos, deixando-os mais distantes da paridade de importação, que é o valor máximo para preços no Brasil, e mais próximos da paridade de exportação, que o valor mínimo de mercado interno. O quanto poderá cair, porém, dependerá das exportações, que podem reduzir os estoques domésticos. Por enquanto, as estimativas apontam exportações em 2013/2014 na mesma linha da 2012/2013, entre 550 e 600 mil toneladas.

Mercado internacional

As transações no mercado de algodão em pluma na safra 2013/2014 devem ser tão desafiadoras aos agentes quanto foram na temporada 2012/13. O cenário é de reação da demanda internacional – com exceção da China -, de queda na oferta mundial, de recorde nos estoques finais e de possibilidade de maior disponibilidade de estoques governamentais da China, fatores, portanto, que podem elevar e também derrubar os preços da pluma no correr da safra 2013/2014.

Projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a safra 2013/2014 indicam que os estoques mundiais de algodão deverão subir pela quarta temporada consecutiva, atingindo o maior volume histórico. Os estoques mundiais são projetados em cerca de 21 milhões de toneladas em 2013/2014, 8,2% acima dos de 2012/2013 e o dobro da quantidade registrada em 2009/2010.

Os fortes aumentos dos estoques mundiais de algodão nas últimas safras são resultados do crescimento da oferta acima da demanda. Por um lado, preços maiores que as médias históricas favoreceram o crescimento da produção, mas, por outro, limitaram o uso industrial – agentes de indústrias passaram a buscar produtos substitutos mais baratos, como fibras artificiais e sintéticas.