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Para os moinhos brasileiros, que três anos atrás compravam da Argentina 90% do trigo importado, a falta de previsibilidade no fornecimento é o maior problema. Negociar com a Argentina é vantajoso, pois a operação pode ser feita rapidamente e a logística é favorável. Já recorrer ao mercado norte-americano demanda um planejamento de prazo mais longo, além de significar maior desembolso – o frete é mais caro e sobre a importação incide Tarifa Externa Comum (TEC), de 10%.
– Não tememos desabastecimento, mas a questão será onde buscar trigo – resume o diretor-presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih.
Nos cálculos de um comprador de trigo do Nordeste, a Argentina deve assegurar estoques de pelo menos 1,5 milhão de toneladas de trigo e liberar para exportação o excedente, de cerca de três milhões de toneladas, volume a ser disputado pelo Brasil e outros países da América Latina. O Uruguai destinará ao exterior aproximadamente 800 mil toneladas e o Paraguai terá oferta pouco expressiva pois, como o Paraná, foi prejudicado pelo clima. O Brasil poderia contar então, segundo as fontes ouvidas, com cerca de 3,5 milhões de toneladas do Mercosul e 4,5 milhões de toneladas da safra nacional. Como a moagem é de 10,5 milhões de toneladas/ano seria necessária a compra de 2,5 milhões de toneladas de terceiros países. Em 2013, esse foi o volume buscado pelo Brasil nos Estados Unidos – mais precisamente 2,499 milhões de toneladas entre janeiro e outubro.
Na avaliação de analistas do mercado, a dependência do cereal de outros mercados pode gerar uma pressão inflacionária no próximo ano. Os preços do trigo não devem oscilar muito no mercado internacional, já que a produção global cresceu, mas o câmbio valorizado e a TEC elevarão a despesa. Se isso se confirmar, os moinhos devem voltar a pedir ao governo a isenção da TEC. Em 2013, esse pedido foi apresentado em fevereiro e a partir de março a importação sem o imposto foi liberada e se estendeu até novembro.
No próximo ano, o setor produtivo espera que isso não se repita para não desestimular o plantio da safra nacional. O Paraná, maior produtor de trigo pão, deve continuar investindo na cultura, em especial na região centro-sul do Estado, onde não é possível cultivar milho segunda safra.
– O preço está bom, bem acima do mínimo de garantia – destaca Robson Mafioletti, assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Ele lembra o governo autorizou a inscrição de novos campos de produção de sementes de trigo para compensar a perda de produção em 2013 por causa das geadas, o que garantirá o insumo aos produtores que optarem pelo trigo.
Além disso, há uma expectativa de que o Plano de Safra de Cereais de Inverno seja divulgado ainda em fevereiro para sinalizar como será o apoio ao setor no próximo ano. Além do reajuste do preço mínimo de garantia, triticultores esperam contar com a garantia de contratos de opção de venda futura ou de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro), mecanismo que assegura a comercialização a preços remuneradores na entrada da safra.
A perspectiva, porém, é positiva para o trigo nacional ao longo do primeiro semestre, na avaliação de Mafioletti. Segundo ele, o atraso na oferta do grão na Argentina e a inexistência de estoques de trigo por parte do governo favorecem o produtor, em especial os gaúchos que colheram mais de 3 milhões de toneladas em 2013.
– Até setembro/outubro do próximo ano não vamos ter trigo novo no Brasil. Os agricultores gaúchos não devem ter pressa em negociar – disse ele.