Muitos criticam hoje a chamada “desindustrialização” da balança de comercial, por causa da forte participação das commodities, impulsionada pela voracidade da demanda chinesa por matérias-primas, mas há seis décadas somente o café respondia por mais de 70% das exportações brasileiras.
Atualmente, o café ocupa o quinto lugar no ranking das exportações das commodities agropecuárias, que por sua vez respondem por 43,5% da balança comercial brasileira. O valor das exportações de café neste ano é inferior às receitas dos complexos soja (grãos e derivados), carnes (bovina, suína e de aves), sucroenergético (açúcar e álcool) e de produtos florestais (papel e celulose).
Em virtude da desvalorização do real, as cotações do café na Bolsa de Nova York recuaram por seis pregões seguidos até a última quinta, dia 22, para fechar estável na sexta, dia 23. O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora santista, relata em seu boletim que especuladores e compradores em Nova York procuram se apropriar da desvalorização do real, enquanto alguns exportadores reduzem seus preços em dólares, para tentar conquistar novas vendas. Os preços só não recuaram ainda mais no mercado físico brasileiro porque os vendedores retraíram.
O indicador diário de preços do café, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) reflete a relação do mercado cafeeiro com o câmbio. O valor médio do indicador no acumulado deste mês está em R$ 286,81 a saca de 60 quilos, em queda de 0,5% em relação ao mesmo período do mês passado. No período, enquanto houve queda de 3,9% na cotação do real, os preços do café em dólar caíram 4,2%.
Ao comentar a especulação na bolsa, o Escritório Carvalhaes observa que a movimentação está levando a uma transferência brutal de renda dos cafeicultores brasileiros para as torrefações no exterior.
– A queda contínua das cotações em dólares nas bolsas de futuro e agora a acentuada desvalorização do real, trouxeram o preço do café no Brasil para patamares abaixo do custo de produção até dos cafeicultores mais tecnificados e capitalizados – dizem os corretores.
Segundo eles, o cafeicultor brasileiro de um lado recebe a cada dia menos reais por sua produção e do outro assiste seus custos subirem vertiginosamente. Eles lembram que os fertilizantes, defensivos e equipamentos têm seus preços reajustados por conta da alta do dólar e da percepção de mudança de cenário, enquanto a mão de obra sobe por causa da inflação, que já passa dos 6%.
– O quadro é insustentável – alertam.
Antes de o câmbio ser citado como fundamento para derrubar os preços, a justificativa do mercado era que os estoques de passagem e a safra atual brasileira garantem a disponibilidade de café. A política de sustentação de preços, anunciada pelo governo federal para contrapor as especulações, ainda não teve reflexo no mercado.
Os recursos para financiar o custeio, comercialização e estocagem estão começando a chegar ao campo agora, quando mais de 60% da safra já foi colhida. O lançamento dos leilões de contratos de opções de venda, para retirar do mercado três milhões de sacas de café, caso os preços não reajam, ainda não saiu do papel.
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