– Mesmo que parte da produção brasileira seja certificada segundo os mais altos padrões exigidos pela Diretiva Europeia para Promoção de Energias Renováveis (RED), inclusive com critérios adicionais de sustentabilidade não exigidos pelo documento, a tarifa de 0,19 euros praticada atualmente acaba encarecendo o produto brasileiro na EU – afirmou a executiva da Unica durante o evento que reuniu mais de 70 especialistas ligados a diferentes segmentos da indústria mundial de biocombustíveis.
Para exemplificar a situação, Kutas citou o caso do Bonsucro, uma iniciativa internacional formada por organizações não-governamentais e multinacionais empenhadas na produção sustentável de açúcar e etanol, cujo selo de certificação é aceito na UE.
– No Brasil, o Bonsucro já certificou 20 usinas e mais de 437 mil hectares (ha) de cana, o que equivale a 4,6% dos canaviais cultivados no país. Este montante seria o suficiente para suprir 20% do consumo europeu anual de etanol estimado até 2020. Entretanto, em função do alto-custo do produto brasileiro na EU, o primeiro navio com etanol brasileiro certificado pelo Bonsucro só deverá desembarcar nas próximas semanas em solo europeu – informou.
Na opinião da especialista, a queda da tarifa européia não deverá ocorrer no curto prazo.
– Uma alternativa seria reduzi-la através de mecanismos de negociação internacional, como a Rodada de Doha ou o Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e EU, que no momento infelizmente estão com as discussões praticamente paralisadas – observou Kutas em sua participação no evento realizado em Genebra.
A executiva, que integrou um debate no painel “Compliance creates business opportunities” por meio da parceria da Unica com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), lembrou que a maior presença do etanol no mercado internacional depende muito mais de políticas comerciais praticadas pelos países importadores do combustível renovável.
– Fora da União Europeia não existe demanda por etanol certificado, ou seja, atualmente este processo não necessariamente gera oportunidades de negócios para o biocombustível – ressaltou.
Segundo a especialista, a política europeia de biocombustível deveria valorizar mais a elevada redução de gases de efeito estufa (GEEs) proporcionada pelo etanol de cana, assim como é feito nos Estados Unidos (EUA), onde o produto brasileiro é reconhecido como um biocombustivel avançado, capaz de reduzir em 90% as emissões de GEEs comparado à gasolina.
– Hoje a política europeia só estabelece um piso de redução das emissões de 35%, o qual não permite diferenciar o etanol de cana de outros combustíveis renováveis, cujo potencial de redução de emissões é menor – acrescentou.
Durante sua participação no seminário em Genebra, a assessora sênior para Assuntos Internacionais da Unica discutiu o assunto com o gerente de Comercialização de Biocombustíveis da Petrobras no Reino Unido, Arnaldo Rotemberg, o gerente de Projetos e Negócios da empresa Vopak, dedicada à logística de distribuição de combustíveis na UE, Maurice Houben, e o chefe do departamento de Relações Públicas e Meio Ambiente da empresa aérea Swiss Inernational Air Lines, Christoph Füllemann.