Apesar do crescimento impulsionado por causa de uma área plantada maior, os produtores seguem preocupados com o clima e a mosca branca
Fernanda Farias | São Desidério (BA)
Os sojicultores da Bahia esperam colher 10% a mais nesta safra, a expectativa é produzir cinco milhões de toneladas. Mesmo com a estiagem que afetou as lavouras nos últimos três meses, o otimismo se dá, principalmente, pelo aumento da área plantada, já que a oleaginosa ganhou o espaço antes ocupado pelo algodão e pelo milho.
– Em função deste ano [2015] ter uma baixa disponibilidade de crédito, o produtor migrou para a soja. Nós tivemos um acréscimo [de área plantada] em torno de 10% para a soja e uma redução de 11% no algodão. A área de milho reduziu pela metade, essas áreas migraram para a soja. Se tivermos um ano normal daqui para frente, nós devemos ter um aumento de produção em torno de 8% a 10% – explica o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato.
O otimismo dos produtores existe mesmo com a previsão de pouca chuva para os próximos meses. O engenheiro agrônomo acredita que as lavouras podem suportar até 25 dias de estiagem.
– Normalmente o produtor vem fazendo um preparo de base, perfil de solo ao longo dos anos e, com isso, estabelecendo um sistema de plantio direto, permitindo a planta ter uma raiz melhor e suportar mais um período de estresse – comenta.
Estiagem
O produtor Luiz Gatto saiu do Rio Grande do Sul rumo ao oeste da Bahia ainda menino para plantar soja. Com a experiência de mais de três décadas, ele conta que o clima deste ano é um dos piores que já enfrentou.
– Dos 35 anos de Bahia, este foi o pior. A chuva foi muito irregular, faltou bastante. Tanto que a média na região é de 1800 mm e, hoje, está com 300 mm – afirma.
A estiagem de novembro e dezembro de 2015 vai afetar a produtividade. A média esperada é a mesma da safra passada, 66 sacas por hectares, mas a meta não deve ser atingida.
–As primeiras sojas vão ter uma quebra, ainda não dá para quantificar. Vamos perder crescimento e floração. A produtividade, com certeza, caiu – diz Gatto, que precisou replantar 1300 hectares.
Ataque da mosca
O diretor da Fundação Bahia Celito Breda alerta para um problema que pode vir com a seca: o surgimento da mosca branca. Na última safra, as lavouras perderam cerca de três sacas por hectare só por causa desta praga. Além disso, o custo para controlar o inseto é alto: de US$ 20 a US$ 30 por hectare.
– Talvez seja a praga que mais deu prejuízo na Bahia, a mosca branca causa a fumagia, que diminui a fotossíntese da planta. Temos que torcer para que o clima seja melhor. Se ocorrer novamente veranicos de 20 a 40 dias, teremos abandono de lavoura, porque o produtor não vai gastar mais para controlar a mosca branca e, com isso, a lavoura pode virar foco da praga – avalia Breda.
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