Em Campo Verde, no sudeste de Mato Grosso, o cenário está diferente do esperado pelos produtores. As folhas do milharal estão parcialmente destruídas e não devem gerar a produtividade esperada. É o caso da fazenda do produtor rural Carlos Rodrigo Bernardes da Silva.
– O que vem acontecendo em Campo Verde é a quebra de tecnologia dos milhos Bt. Como tem se avaliado, há vários anos essa tecnologia vem sendo quebrada – destaca Silva.
Quem aposta no milho geneticamente modificado busca a principal vantagem prometida pela tecnologia, que é o controle de lagartas sem a utilização de defensivos. Nesta safra, no entanto, o produtor não está conseguindo obter esse benefício. A lavoura do produtor de milho já passou por duas aplicações químicas. Silva reclama que as empresas dão garantia mas não enviam técnicos às lavouras para verificar a ineficiência do produto.
– Você fica em uma situação que não tem certeza de que aquilo que comprou, pagou, vai funcionar. Essa base de garantia que as empresas não veem, elas não estão no campo para auxiliar o produtor com isso – diz o produtor.
Cada saco de sementes transgênicas custa R$ 450,00, o que é praticamente o dobro do custo da semente convencional. Para cada aplicação de defensivo, o produtor teve que desembolsar cerca de R$ 35,00 por hectare, uma despesa que não estava planejada. Mesmo assim, as lagartas aparecem e geram prejuízo.
O produtor seguiu a recomendação técnica da empresa detentora da tecnologia, plantando mais de 10% da área com sementes convencionais ao lado da lavoura transgênica. Silva alerta que faltam sementes convencionais para fazer o refúgio.
– Hoje, a empresa vende a tecnologia e esquece do milho para fazer o refúgio, porque se você procurar as empresas, elas não têm o milho sem a tecnologia. Existe uma demanda para se fazer o refúgio, e as próprias empresas multinacionais não têm esse milho para vender para o produtor.
A praga que está resistindo ao milho Bt é a lagarta-do-cartucho. Em grandes infestações, ela pode provocar perdas de até 50% da produção. O engenheiro agrônomo Márcio Goussain afirma que, em Campo Verde, os agricultores reclamam da presença do inseto em várias plantações transgênicas.
– Achávamos que a tecnologia iria durar por muito tempo, mas subestimamos a nossa lagarta, a Spodoptera frugiperda. Se nós não cuidarmos de refúgio, de monitoramento e de assistência técnica nas propriedades, em um curto espaço de tempo perderemos também essas novas tecnologias estão entrando no mercado – pontua Goussain.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, explica que um plano de regulamentação ao uso da tecnologia é estudado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
– Isso é muito preocupante. Estamos tendo caso em que a tecnologia Bt não está mais funcionando, e o produtor paga por essa tecnologia, ou seja, ele investe para ter um controle dessa lagarta e esse controle não vem. Nós, produtores, precisamos saber o que estamos comprando, se realmente a tecnologia funciona ou não, isso é primordial para os produtores rurais; e as empresas que vendem essa tecnologia têm que se responsabilizar também para que essa ela funcione. Precisamos conversar, produtores rurais, empresas e governo, através do Ministério da Agricultura, para que haja uma resolução regulamentando o funcionamento dessa tecnologia – considera Prado.
O Ministério da Agricultura estuda a elaboração de uma portaria referente ao conceito de áreas de refúgio na safra 2014/2015. O objetivo da técnica do refúgio é garantir à suscetibilidade dos insetos às toxinas do transgênico. No entanto, se a área não for delimitada corretamente, o uso da tecnologia Bt corre o risco de se tornar ineficiente. A intenção é que sejam adotadas regras semelhantes às utilizadas nos Estados Unidos e na Austrália, mas com padrões adaptados à realidade brasileira.
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