O preço baixo do milho segunda safra em Mato Grosso prejudica também os produtores de Rondônia. É que a desvalorização do produto gera concorrência no mercado entre os estados e dificulta a comercialização.
Este ano, Nadir Ciro Comiram cultivou 1,5 mil hectares de milho de segunda safra. Investiu em alta tecnologia, o clima colaborou e a produtividade está bem acima da média esperada. O problema está da porteira para fora, na hora de vender o produto.
– Historicamente, nós aqui de Rondônia, sempre ganhamos dinheiro com o milho safrinha, porque o abastecimento do estado, o abastecimento de Amazonas, Manaus e o próprio estado do Acre, sempre era feito pelo milho que é produzido aqui em Rondônia. Nós não dependíamos de exportação, nós tínhamos um mercado certo, mas com essa superprodução, o pessoal está indo buscar em Mato Grosso, um milho que eles acabam comprando mais barato lá, então foi um problema que surgiu para nós – desabafa Comiram.
Os produtores tentam encontrar uma maneira de driblar a concorrência, mas o valor da saca está cada vez mais baixo. Os preços pagos já não cobrem os custos de produção.
– O preço defasou muito de dois meses para cá, e o nosso custo vem ficando 30% a mais do que a gente era acostumado a fazer à lavoura. Então, vai ficar meio inviável, o milho nós vamos vender a R$ 15, R$ 14 o saco e isso não paga o nosso custo – reclama Valdir Nelmann da Silva, outro produtor rural.
Comiram concorda e diz que os produtores estão pensando em alternativas, como a taxação maior ao milho vindo de outros estados.
– A gente vê a parte fiscal, se isso é válido ou permitido juridicamente, mas talvez uma taxação maior para milho vindo de outros estados, para nós podermos continuar produzindo e tirarmos o custo de produção pelo menos, porque este ano está bem difícil – reforça.
O produtor diz que o governo deveria intervir por meio do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro).
– Estamos colhendo e não estamos vendendo, e se não tem uma interferência do governo é difícil você vender um volume maior. O pessoal está comprando, como se diz, da mão para a boca, e uma carga de milho dá para a semana, na semana que vem compra outra para ir tratando do boi, frango, suíno – sugere Comiram.
Área
Sem muita perspectiva para a cultura, muitos produtores já pensam em reduzir a área na próxima safra.
– A ideia é reduzir milho o ano que vem, plantar a metade, ou então nem plantar. Não tem jeito, porque se tu trocar seis por meia dúzia te dá só para a cobertura da lavoura, não adianta, tem que te dar um lucrinho, porque os custos são muito altos – diz Silva.
Cansado de só ter prejuízos com o cultivo de milho, Darci Polon, também produtor, não pensou duas vezes e decidiu optar por outro cultivo nesta safra. Encontrou no feijão uma boa alternativa:
– Agora, no forte da colheita, em que o milho despenca bastante, chegando a R$ 13, o feijão não, ele mantém um preço a nível nacional e hoje está na faixa de R$ 120 o saco. Então, eu acho que tem um retorno razoavelmente bom – conta Polon.