Pelo menos 35% da área plantada de milho segunda safra no país ficou fora da janela ideal de plantio e pode perder em produtividade se o clima não for generoso. Em Goiás, a estiagem já está comprometendo a produção e o prejuízo pode passar de R$ 800 milhões, depois de um mês inteiro sem chuvas.
Em Cristalina, no leste do estado, o produtor Mauro Doniseti plantou 1,9 mil hectares, esperava colher 115 sacas por hectare, mas já calcula que a produtividade não deve passar de 70 sacas. “Essa situação é a primeira vez que acontece na região, de uma seca tão severa como essa. Estas áreas estão há 28 dias sem chuva, mas tem áreas que tem até 40 dias sem chuva na região. Mesmo que chova, a quebra já ocorreu. Não tem volta”, lamenta Doniseti.
Mas se chover, ameniza. O cálculo do produtor é que, talvez, se colha 60%, 50% do que era esperado. “Situação tão complicada que você não consegue nem quantificar o quanto se perdeu”.
A última chuva registrada em Goiás foi no fim de março. A área plantada de milho no estado está estimada em 1,17 milhão de hectares. “Nós temos milho de diversos períodos de plantio, uns 25% que plantou em janeiro está muito bom e devemos colher por volta de 80-100 sacas por hectare. Mas os que plantaram depois, mesmo em fevereiro, na época normal, estão sofrendo e a produtividade deve cair bem, estimamos uma perda de 40% na nossa região”, afirma o presidente do Sindicado Rural de Cristalina, Alécio Maróstica.
A janela ideal para o milho vai do início de janeiro até 20 de fevereiro, mas com o atraso na safra de soja, o plantio do milho segunda safra também atrasou. Agora, as lavouras sofrem com o período mais forte da estiagem. A produtividade média no estado de Goiás deve cair de 80 para 50 sacas por hectare.
O presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Cristalina (Aecris) explica que a região leste de Goiás começou a fazer segunda safra de milho em 2013, só que para funcionar é preciso acelerar a colheita das culturas de verão e acertar o período correto de plantio.
“O feijão é uma tradição na primeira safra aqui em Cristalina, e a soja precoce. Nós estamos dentro de um zoneamento agrícola que permite as duas safras, mas tem os limites de período para segunda safra. O período da primeira inicia quando começam as chuvas, a partir daí, colheu a primeira já em seguida faz a segunda safra. O período limita no momento que corta a chuva. Nos últimos quatro anos, abril tem chovido bem, mas este ano abril não choveu”, comenta Renato Caetano, da Aecris.
A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) quer pedir para o governo decretar estado de emergência. Mas para o presidente do Sindicato Rural, o decreto não vai resolver o problema dos produtores atingidos pela seca.
“Estão falando neste estado de emergência, esta é uma parte da solução que não resolve tudo, porque alguém financiou esta safra e quer receber, ou o produtor que vendeu o milho, ou quem comprou quer receber. Temos que resolver isso, sentar, discutir estes problemas que sempre sobram depois de um movimento deste, de estado de emergência, ou evento que venha para estabelecer uma renegociação destas dívidas”, defende Maróstica.