O Brasil não possui produção suficiente de cevada para malte. Para suprir a demanda das cervejarias, boa parte da produção é importada. O mesmo acontece com o lúpulo. Por isso, as fábricas passaram a utilizar outros produtos na preparação da bebida, como milho, trigo e arroz, a fim de diminuir as despesas. No entanto, com cenário de quebra de safra também para essas commodities, todas as opções ficaram mais caras.
O engenheiro agrônomo da Malteria do Vale, de São Paulo, Emílio Wanderley Gotti Filho, explica que a cevada nacional teve um aumento de cerca de 10% só no custo de produção, sem levar em consideração a alta dos valores dos insumos.
– Sem contar o milho, que sofreu uma grande elevação do ano passado para cá. Isso deve ter sido repassado para as cervejarias e para o próprio custo da cerveja. A cevada teve um aumento, o milho teve um aumento muito maior – acrescenta.
Segundo Cilene Saorin, que é presidente da Associação Brasileira dos Profissionais em Cerveja e Malte (COBRACEM), a alta vem acontecendo ao longo dos último anos.
– Nos últimos cinco anos, tivemos aumentos progressivos do custo da cerveja no mundo inteiro por conta das quebras de safra, falando somente na questão das matérias-primas. Particularmente, temos cevada aqui no Brasil. Já o lúpulo, é 100% importado de outros países. E boa parte dos maltes de cevada, ou da cevada para ser maltiada no Brasil, também vem do exterior.
A cervejaria de Geraldo Guitti, por exemplo, com sede em São Paulo, teve aumento significativo no custo de produção. Como a cevada é importada, o preço não aumentou somente 10%, mas 22%. A maior demanda por soja e milho para exportação também colaborou para tornar o frete mais caro.
– Aumentou muito o custo de transporte. Infelizmente, o transporte no Brasil é caro porque tudo é feito através de rodovias – afirma o proprietário.
Outra preocupação para as empresas é em relação aos impostos. No início deste mês, o governo federal reajustou em 2,85% as taxas pagas por fabricantes de bebidas alcoólicas. Guitti aponta que, por enquanto, ainda é possível reter os custos.
– A gente consegue absorver os custos, mas, dependendo da variação, pode haver acumulação, até chegar o momento em que será necessário um reajuste geral.
Para Emílio Gotti, o investimento na produção nacional de cevada e malte seria uma alternativa para conter as elevações. Assim, as cervejarias brasileiras deixariam de depender dos cereais tradicionais, que estão cada vez mais caros.
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