Agronegócio
'Armazéns e BR do Mar poderiam evitar demanda por milho importado'
De acordo com o comentarista Glauber Silveira, fazer o grão circular pelos portos brasileiros poderia baratear as operações e abastecer melhor os estados
Problemas com a safra de milho de 2020/2021 prejudicam o abastecimento do mercado interno. Como consequência, as importações do cereal aumentaram. A JBS informou que já importou 30 navios de milho da Argentina, e tem mais milho vindo por aí. Assunto para o comentarista Glauber Silveira.
Excedente
“É importante deixar claro que nós, apesar de estar havendo quebras, esperávamos colher 115, 118 milhões de toneladas, então a gente vai colher 95, acima de 90 milhões de toneladas. É importante deixar claro que o consumo interno é de 70 milhões de toneladas. Então, independentemente da quebra, nós ainda temos uma sobra de 20 milhões de toneladas.”
Venda antecipada
“O problema é quando o produtor vai plantar. É o mesmo problema da próxima safra: aqui, no caso de Mato Grosso, o produtor já vendeu 25% da safra de 2021/2022. Então, daquilo que vai ser colhido no ano que vem, já foi vendido um quarto.”
Armazenagem
“Por que acontece isso? Porque não temos armazéns, temos uma dificuldade muito grande em armazenar o grão. A armazenagem no Brasil é muito pequena. Aqui em Mato Grosso é de 50%. Nós precisamos aumentar.”
Importações
“Mesmo que a gente produza 90 milhões toneladas de milho e consuma 70 milhões, muitas vezes chegaremos num momentos em que teremos de importar. Em 2015/2016, nós importamos 3 milhões de toneladas. Foi um ano que teve quebra também, mas mesmo assim produzimos mais do que consumimos. Agora, nesta safra, a gente deve importar mais, como a JBS anunciou, 30 navios, e não só ela, tem a Aurora também, e outras grandes empresas. A gente deve passar, talvez, de 5 milhões de toneladas importadas, infelizmente. Isso não é ruim. O mercado é assim mesmo.”
Cabotagem
“Mas a gente poderia evitar isso com mais armazéns e se aprovássemos a lei BR do Mar, com sistemas de cabotagem [transporte entre portos brasileiros]. Você poderia pegar, por exemplo, o milho de Mato Grosso que sai lá por cima e vai para a China ou Irã. É mais barato exportar milho à Ásia por Santarém ou Porto Velho do que mandar o milho para Santa Catarina. Por quê? Porque no Brasil só tem três empresas que prestam o serviço de cabotagem. São navios pequenos, de alto custo. É vergonhoso isso aí. Por isso está circulando no Congresso o projeto BR do Mar, justamente para podermos fazer circular mercadorias entre os portos brasileiros.”
Argentina e Paraguai
“Por incrível que pareça, é mais barato trazer da Argentina. A maior parte do que se importou é do Paraguai, mas a Argentina teve uma boa safra, o preço está mais barato. Porque o frete brasileiro é muito mais caro, então compensa mais importar do país vizinho.”
Soluções
“Então precisamos corrigir essas coisas. Se não, não importa quanto produzimos de milho, pois o mundo precisa de milho. Todo mundo precisa de milho, o Brasil também. Mas o produtor não pode ficar esperando pra vender. Ele tem que vender porque ele tem que entregar. Se ele não vender antes, a trade não recebe o milho dele na boca da safra. Armazenagem é crucial. As entidades estão buscando democratizar essa questão da armazenagem.”