O analista da Safras, Flávio França Júnior, aponta uma série de fatores que sinalizam este forte aumento no plantio da soja.
– A média de lucratividade bruta da oleaginosa é novamente positiva. Há ainda o aumento na disponibilidade de crédito oficial e privado. Apesar das perdas de produção, os altos preços vêm compensando parcialmente esse gargalo – explica.
Na média de 2012 ante 2011, os ganhos nos preços médios estão em torno de 25%. No entanto, os preços de julho são recordes, ficando entre 70% e 80% acima na comparação com o mesmo período no ano passado. Segundo o analista, a alta foi impulsionada pela combinação de Chicago em nível recorde, prêmios elevados e forte taxa de câmbio.
Para França, o cenário de preços firme em Chicago e no mercado interno também deverá se estender a 2013, mesmo com mais de 35% da safra nova brasileira já comprometida.
– Existe ainda uma positiva sinalização da demanda. Apesar da crise financeira e econômica, o consumo mundial segue subindo – avalia o analista, acrescentando o bom momento de investimento nas lavouras, os preços mais competitivos na comparação com o milho, arroz e algodão, e a rentabilidade com outros ativos financeiros como pontos de estímulo para o aumento de área.
Para o arroz, a expectativa é de haja ligeiro aumento na área plantada. Conforme o levantamento da Safras, o incremento deve ser de 1,3%, passando de 2,451 milhões para 2,482 milhões de hectares. A produção subiria 0,6%, totalizando 11,625 milhões de toneladas.
Segundo Eduardo Aquiles, analista da consultoria, o aumento no plantio se deve a alguns fatores que estão influenciando a tomada de decisão dos produtores, que na safra anterior tiveram que recuar diante dos preços baixos e pelo déficit hídrico de algumas regiões do país.
No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a área cultivada com arroz irrigado deverá ser praticamente a mesma, apresentando pequena elevação, motivada pelos bons preços pagos em 2012 e pela redução dos estoques. Já no Paraná, que cultiva tanto o irrigado como o sequeiro, e nos Estados produtores de arroz de terras altas, o bom momento das cotações de culturas como algodão, soja e milho tenderá a tomar áreas onde normalmente o arroz é cultivado.
– A projeção de ganho de área deverá ser pequena, mas não podemos deixar de levar em consideração que o cenário poderá mudar se o clima ajudar, pois este é o principal fator que poderá, em certo momento, impedir o aumento da área plantada – acrescenta.
O analista também ressaltou que a desvalorização do real, as questões políticas de incentivo ao setor, como a prorrogação das dívidas para os arrozeiros e as doações do governo federal de arroz de safras passadas, poderão dar maior incentivo ao acréscimo de área plantada.
– Sem falar ainda do que está em fase de concretização, que seria o uso de mecanismos para auxílio à comercialização como PEP, Pepro e leilão de Opções, e o aumento do Pis/Cofins para a importação de arroz do Mercosul, a ser aprovado, o que aumentaria a competitividade do mercado brasileiro frente os países membros do bloco – lembra.
Milho
Já o milho deve perder espaço na safra de verão 2012/2013 na região Centro-Sul. Segundo os dados, a redução deve ser de 14,2% na área a ser plantada, que ocuparia 5,083 milhões de hectares, contra 5,925 milhões cultivados em 2012/2013. Se as condições climáticas permanecerem normais, diferente do que ocorreu na temporada passada, a produção da primeira safra poderia ficar em 28,113 milhões de toneladas, recuando na comparação com 28,874 milhões colhidos em 2011/12.
A consultoria trabalha com uma queda de 10% na área a ser plantada na segunda safra, ou safrinha, que totalizaria 6,269 milhões de hectares, contra 6,963 milhões na safra passada. A produção da safrinha deve ficar em torno de 33,975 milhões de toneladas, abaixo das 37,714 milhões previstas para a temporada anterior.
A área total de milho na região Centro-Sul deve abranger 11,352 milhões de hectares, com recuo de 11,9%, enquanto que a produção prevista é de 62,088 milhões de toneladas. Já as regiões Norte e Nordeste deverão cultivar 1,855 milhão de hectares e colher 5,036 milhões de toneladas. Com isso, a área total no Brasil somaria 13,207 milhões de hectares, caindo 10,9% sobre o ano anterior. O país deverá produzir 68,025 milhões de toneladas em 2012/2013, contra 72,437 milhões colhidos em 2011/2012.
Algodão
Os preços baixos praticados no mercado doméstico de algodão pelo segundo ano consecutivo, em contraste com a alta ocorrida na soja e no milho, deverão reduzir a área cultivada com algodão na safra brasileira 2012/2013 em 20,3%, totalizando 1,107 milhão de hectares.
No Mato Grosso, maior produtor nacional a retração esperada é de 19,7%. Os produtores baianos devem reduzir a área em 22,9%. Já em Goiás, a retração estimada é de 15,8%. Com esta área e sem ocorrência de quebras por eventuais intempéries climáticas, pode-se estimar uma produção de 1,670 milhão de toneladas (pluma), o que corresponde a uma retração de 9,8% em relação à produção da safra passada.
De acordo com o analista da Safras, Elcio bento, o recuo só não é maior porque os cotonicultores, com altos investimentos em tecnologias destinadas ao cultivo de algodão, seguirão plantando, mas destinando a maior parte das terras às outras culturas com possibilidade de rentabilidade maior.
Em Mato Grosso, considerando-se os preços atuais, a produtividade da safra anterior e o custo de produção atual, enquanto soja e milho têm rentabilidade positiva de 43,4% e de 20%, respectivamente, para o algodão está negativa em 10,3%. Segundo o analista, os números justificam a posição dos cotnicultores nacionais.
Segundo o analista, outro indicador que corrobora para a perspectiva de redução da área plantada é o menor registro de negócios futuros na Bolsa Brasileira de Mercadoria (BBM). Até essa quinta, dia 19, os produtores de algodão haviam registrado 199.686 toneladas da safra 2012/2013. No mesmo período do ano passado, os registros eram de 408.554 toneladas.
– Este menor volume de registros futuros é mais um prenúncio da redução da área plantada na safra 2012/2013 – completa.
Feijão
A área plantada com feijão deverá cair 8,82% na primeira safra da temporada atual, ocupando 1,139 milhão de hectares. Com a aposta de um aumento na produtividade, a produção deverá totalizar 1,220 milhão de toneladas, com queda de 1,55% sobre o ano anterior.
Segundo o levantamento, as perspectivas são de uma redução generalizada na área cultivada de feijão no Brasil para o período. No entanto, uma boa parcela desse movimento de queda tende a ser compensada pelo aumento da produtividade.
De acordo com o analista da Safras Renan Magro, como a safra passada foi marcada por problemas climáticos, tanto no Sul quanto no Nordeste, a produção nacional foi drasticamente afetada, mas para a safra seguinte as estimativas de produção foram feitas com base na média de produtividade dos últimos anos.
– Com isso, o aumento estimado da produção no Nordeste vai compensar grande parte da diminuição de produção esperada para a região Centro-Sul do país – explica.
Segundo Magro, de maneira geral, o valor da saca de feijão ainda é remunerador para os produtores, porém os altos preços do milho e, especialmente, da soja servirão como barreiras importantes na escolha de produção dos agricultores brasileiros.
– Grande parte do feijão produzido nacionalmente é proveniente de pequenos produtores, que dificilmente trocam para outras culturas devido aos altos custos de transição. Assim, normalmente, quando o valor do feijão não está muito vantajoso, os grandes produtores acabaram substituindo, ao menos uma parte da área disponível para o plantio – aponta.