A Cargill no Brasil encerrou 2022 com receita operacional líquida de R$ 125,8 bilhões, um crescimento de 22% em relação ao ano anterior. Em entrevista, o presidente da empresa no país, Paulo Sousa, disse que a receita foi puxada por crescimento de volume, principalmente na exportação de milho e no esmagamento de soja, em um cenário de preços internacionais altos de soja, farelo, óleo e milho e real “bem competitivo”, ajudando o país a colocar seus produtos no mercado internacional.
“Alinhando esse volume alto com valores altos gerou-se um crescimento considerável do faturamento líquido no ano que passou”, disse o executivo. O lucro líquido no ano passado, no entanto, registrou queda de cerca de 33%, atingindo R$ 1,2 bilhão, ante R$ 1,8 bilhão em 2021.
Conforme Sousa, apesar do aumento da receita, o lucro no período foi afetado pelo incremento de custos de produção e de logística, com as maiores pressões vindo de energia e fretes.
“Os fretes no ano passado, principalmente no primeiro semestre, estiveram muito altos, durante a safra de soja. Isso acabou trazendo custos de execução bem acima do esperado.” Para 2023, a expectativa é positiva para a empresa no país, segundo Sousa. “Nós viemos de uma safra de soja recorde. Em termos de volume é muito promissora, e em um cenário de preço ainda bom”, afirmou o executivo.
Segunda safra de milho
Para a segunda safra de milho, ainda em desenvolvimento, a perspectiva também é de colheita recorde neste ano. “Na parte de produção, é tudo muito positivo e deve levar a um cenário de abastecimento doméstico tranquilo e estoques de passagem no fim deste ano confortáveis, e isso vai ajudar a combater a inflação. E, como produtor teve um rendimento muito bom, a lucratividade ainda está em níveis confortáveis.”
Segundo Sousa, a empresa espera operação logística “dentro de uma previsibilidade maior” em 2023. “Até mesmo porque a demanda está mais tranquila do que no ano passado. Os mercados perceberam que o Brasil tem esse volume disponível. Então não está tendo, como foi no ano passado, aquela correria para comprar rápido, colocar navio na fila, o que acaba aumentando os custos do sistema”, disse. “Este ano, para o Brasil, tem de ser uma safra de eficiência.”
Questionado se a Cargill prevê exportar mais soja e milho a partir do Brasil neste ano, Sousa disse que isso dependerá muito do ritmo da procura. “O principal ponto de interrogação é a demanda chinesa, que está um pouco abaixo da expectativa”, disse.
“O Brasil vai ter volume tanto de soja quanto de milho para oferecer. Agora vamos ver qual o tamanho do apetite da demanda chinesa para saber se pode vir a ser um volume recorde.”
Milho para a China
Segundo Sousa, a China já se tornou um comprador relevante do milho brasileiro após a aprovação do novo protocolo de exportação em 2022. “O primeiro ano foi ano passado, mas na China não tem pequena escala. Ela chega e já é relevante, e é ótimo para o agronegócio brasileiro ter uma demanda como a China no nosso portfólio. Começou bem”, disse.
Para este ano, o país asiático já tem compras feitas no Brasil, segundo o executivo. Sousa reforça a expectativa de que o Brasil seja pela primeira vez o maior exportador de milho do mundo, assumindo, ainda que temporariamente, o lugar dos Estados Unidos.
“Pode ser que no ano que vem os EUA retomem (o posto de maior exportador), mas acreditamos que no médio e longo prazo o Brasil venha a assumir essa posição com a mesma clareza que nós temos com soja, açúcar, café e outros produtos.”
Exportações da Cargill
A empresa superou a marca dos 41 milhões de toneladas movimentadas em 2022 no Brasil, aumento de 15% em relação ao ano anterior. “O processamento doméstico (de soja) veio bem aquecido, então priorizamos também o esmagamento local. Houve a redução da exportação de soja em algumas regiões específicas que sofreram mais com a seca no ano passado. Não foi algo que nos atrapalhasse sobremaneira”, disse Sousa, ressaltando que o programa de exportação de milho foi positivo em 2022, conforme o esperado em virtude do tamanho da safra.
Para este ano, por causa da melhora na oferta esperada de soja e milho, a perspectiva é superar a movimentação do ano passado. “Trabalhamos com a expectativa de bater esse número de volume”, concluiu.
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